I SÉRIE — NÚMERO 24
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O que vem fazer o Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo é agravar essa circunstância, é legitimar
essa circunstância, sob a ideia de uma concorrência e sob a consigna de uma liberdade de escolha, que é
absolutamente inexistente.
O que se passa aqui é que o Governo quer, de um ponto de vista inconstitucional e sem ética política, fazer
uma transferência de fundos públicos para interesses privados. É uma passagem de fundos públicos para
interesses privados! Porque esta ideia de que «com o dinheiro dos contribuintes, vamos financiar a escola
privada», que não é uma escola que apresenta à partida as mesmas condições de oportunidade que a escola
pública, significa que o que se quer é diminuir, apoucar e destruir a escola pública, a favor da escola privada!
Portanto, o contrato de associação, hoje, teoricamente em pé de igualdade com a escola pública, é um
desmerecimento da Constituição e é uma violação da lei fundamental. Como tal o tomamos e como tal
entendemos que deve haver cessação de vigência deste Decreto-Lei, nesta Câmara. A introdução do
chamado «cheque-ensino» é exatamente a viabilização da pior das políticas!
Queria chamar a atenção das Sr.as
Deputadas e dos Srs. Deputados, já que o Governo não liga a isso, para
o seguinte: o recente Relatório PISA mostra que a Suécia, que se tem vindo a distinguir de uma forma muito
radical e vincada pela introdução generalizada do cheque-ensino,…
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Veja o Chile e a Holanda!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — … é dos Estados avaliados o que mais caiu — aliás «despenhou-se», nesse
ranking de avaliação!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Fale do Chile e da Holanda!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Portanto, no que respeita ao cheque-ensino na Europa, onde está a ser
introduzido por normativo ideológico e por orientação comum àquilo que é hoje o património dos partidos da
direita (dantes era só o CDS; hoje, PSD e CDS confundem-se na defesa do cheque-ensino), o que está a
acontecer, na verdade, é que está a ficar para trás, está em crise, está superado aonde está a ser aplicado.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — E o Chile e a Holanda!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Como tal, acompanhamos o pedido de cessação de vigência aqui
apresentado pelo Bloco de Esquerda e entendemos que, mais cedo do que tarde, é necessário renunciar a
estas políticas e alterar o Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo, garantindo aquilo que é
constitucionalmente aceite e está fixado, ou seja, escola privada com fundos públicos só aonde não há oferta
pública.
Aplausos do BE.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — A Constituição não diz isso!
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do CDS-PP.
Sr.ª Deputada Inês Teotónio Pereira, faça favor.
A Sr.ª Inês Teotónio Pereira (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Srs. Membros do
Governo: O Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo, que hoje é objeto de apreciação parlamentar, traz
alterações importantes e, a nosso ver, absolutamente necessárias.
Este Estatuto substitui um diploma com mais de 30 anos, que precisava de atualização urgente, e une
legislação que estava dispersa, fazendo assim corresponder na legislação o papel que o ensino privado ocupa
hoje no sistema educativo.
O CDS revê-se nestas alterações por razões objetivas que vão ao encontro daquilo que defendemos em
matéria de política de educação.