I SÉRIE — NÚMERO 24
14
Tem a palavra, em primeiro lugar, para apresentar o pedido de apreciação parlamentar do PS, a Sr.ª
Deputada Odete João.
A Sr.ª Odete João (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Srs. Secretários de Estado: O novo
Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo, da autoria do Governo PSD/CDS, pretende subverter, por
decreto-lei, princípios inscritos na Constituição, nomeadamente o caráter supletivo dos estabelecimentos de
ensino particular e cooperativo.
O diploma consagra, de forma descarada, a mercantilização do ensino e abre a porta à privatização da
escola pública. Submete a responsabilidade do Estado aos interesses dos grupos económicos e altera o
paradigma que até agora serviu de referência à política educativa. Protege, com dinheiros públicos, o mercado
privado da educação e assegura-lhe o futuro que retira à escola pública. A educação passa, agora, a ser
regida pelas leis do mercado.
Este Estatuto institui a desregulamentação da rede escolar e decreta o esvaziamento da escola pública,
bem como o despedimento de professores, área em que, aliás, o Sr. Ministro da Educação tem vindo a ganhar
uma crescente notoriedade.
Em nome de uma pretensa liberdade de escolha, a oferta privada sobrepõe-se, agora, à disponibilidade
existente na rede pública, ao mesmo tempo que beneficia das condições vantajosas oferecidas pelo Governo,
nomeadamente a garantia de financiamento — e são, no próximo ano, mais 2 milhões de euros no ensino
privado —, a autonomia pedagógica, a não interferência na organização interna e a simplificação de
procedimentos.
Em contrapartida, a escola pública vive amarrada em peias administrativas, esvaziada da sua autonomia.
Cortam-se os recursos para combater o abandono e o insucesso escolar, corta-se o investimento na escola
pública e, no próximo ano, são menos 500 milhões de euros, no Orçamento, para o ensino básico e
secundário.
O principal objetivo do Sr. Ministro está, contra tudo e contra todos, a procurar concretizar-se: privatizar o
ensino.
O guião da reforma do Estado não é alheio a esta situação e, mais uma vez, faz a apologia da escola
privada e menoriza a escola pública. Aponta a criação de «escolas independentes», experiências que noutros
países estão a ser abandonadas ou revistas. Vejam-se os resultados do PISA 2012!
A liberdade de escolha tão propalada pelo Governo esbarra nas regras de admissão dos alunos no ensino
privado, na não gratuitidade do ensino, com as famílias a poderem ser oneradas por muitos serviços que lhes
são agora prestados, e na desresponsabilização do Estado.
Ainda a propósito do logro do cheque-ensino, refira-se o estudo de Pauline Musset, quando conclui que os
sistemas educativos que combinam a escolha da escola com a possibilidade de pagamentos adicionais pelos
pais são aqueles que tendem a ter maior segregação.
Sr.as
e Srs. Deputados, para quê mais experimentalismos, se já conhecemos os resultados?!
O atual Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo contribui para uma escola segregadora e elitista, não
protege as famílias e a educação de todos os portugueses, enquanto fator de redução das desigualdades
sociais, fica cada vez mais longe desse objetivo, e o Sr. Ministro da Educação é o seu instrumento.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para apresentar o pedido de apreciação parlamentar formulado pelo PCP, tem a
palavra a Sr.ª Deputada Paula Baptista.
A Sr.ª Paula Baptista (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Estatuto do Ensino Particular e
Cooperativo de nível não superior que o Governo impõe ao sistema de educação é escandaloso e desobriga o
Estado de assegurar a criação de uma «rede de estabelecimentos públicos de ensino que cubra as
necessidades de toda a população».
Lembramos que o encerramento de milhares de escolas do 1.º ciclo é a prova evidente do sentido político e
ideológico que o PSD e o CDS seguem, não só de privatizar a educação, mas também de demissão de criar