7 DE DEZEMBRO DE 2013
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E em tão pouco tempo já tanto foi destruído! É fácil destruir em dois anos o que levou um século a
construir. Faz-se por despacho, e assim se extingue, sem remorso nem consciência, o Instituto de Odivelas,
fundado em 1900, com 113 anos de história a servir a educação em Portugal.
Simultaneamente, ao encaminhar as alunas de Odivelas para o Colégio Militar, desvirtua-se, compromete-
se e descaracteriza-se também o Colégio Militar, outra instituição simbólica cuja essência também é posta em
causa com esta medida.
Como é que Portugal se pode dar ao luxo de destruir símbolos de excelência que levaram tanto tempo a
construir e que são simbólicos da nossa capacidade em certos domínios?
A reforma das escolas militares, levada a cabo pelo Ministério da Defesa com a cumplicidade do Ministro
da Educação, demonstra como o Governo ignora a essência das matérias em que mexe; ignora o que faz das
meninas de Odivelas um exemplo de excelência no ensino em Portugal; ignora o que está para além do estrito
cumprimento dos programas e das metas curriculares; ignora o que ultrapassa a relação entre
professor/aluno/encarregado de educação; ignora o sentimento de corpo, de pertença, de partilha, de
solidariedade, que marca as alunas que por lá passam; ignora os conceitos de ética e de valores, que já se
vêm a perder na sociedade portuguesa e que, felizmente, ainda perduram onde os sabem conservar; ignora
ainda que, entre algumas das mais proeminentes mulheres na sociedade portuguesa, nas várias áreas
profissionais, estão ex-alunas de Odivelas, que nunca precisaram de frequentar um colégio misto para se
afirmarem como mulheres por inteiro; e ignora, certamente, a dimensão da excelência do ensino de Odivelas,
uma das melhores escolas do País — no ano passado ficou colocada em segundo lugar no ranking das
melhores escolas públicas do ensino secundário e 95% das suas alunas entraram no ensino superior.
Talvez por isso, o Governo resolveu extinguir esta que é uma das melhores escolas públicas que temos em
Portugal. Só pode ser por ignorância!
A racionalização de custos não justifica tudo, nem sequer está devidamente comprovada — aliás, há
estudos que indicam o contrário. Trata-se, sim, de uma medida despesista, uma vez que obriga à construção
de um anexo no Colégio Militar e ao desperdício das atuais instalações, que estão bem equipadas, com
laboratórios e com todos os meios complementares de aprendizagem.
Sr.as
e Srs. Deputados, este assunto é de interesse nacional, e o interesse nacional está a ser lesado com
a destruição de um projeto educativo único no País e está a ser lesado pela redução da oferta pública
diferenciada e pela diminuição de opção de escolha.
Tudo isto devido à incapacidade do Governo em respeitar e em perceber que o Instituto de Odivelas
acrescenta ao País em vez de o diminuir.
Apelo aqui às bancadas dos partidos que apoiam o Governo que se juntem a esta petição e exijam a
revogação deste despacho. Ainda vamos a tempo de corrigir este erro.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mónica Ferro.
A Sr.ª Mónica Ferro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Quero começar por cumprimentar
os peticionários, na pessoa da primeira peticionária, Maria João Vidal de Oliveira Marcelo Curto, cumprimentar
também as alunas e os docentes do Instituto de Odivelas que aqui se encontram e também não posso
também deixar de louvar o exercício cívico-democrático das 5400 pessoas que se associaram a esta causa,
que nos merece a maior ponderação.
Partilhamos, de facto, do diagnóstico feito nesta petição, pois o Instituto de Odivelas trata-se de uma escola
de valores, de uma escola de rigor, de uma escola de competência e as preocupações de honrar este
percurso e de dignificá-lo na reforma em curso são também preocupações nossas porque, de facto, o Grupo
Parlamentar do PSD partilha da exigência pela excelência e dela não abdica.
Mas o que nos orienta nesta reforma que estamos a levar a cabo nos institutos militares de ensino não
superior é uma reforma estrutural que visa obter racionalização económica, mas também, e sobretudo,
melhorar a sua dimensão pedagógica e assegurar a sua coerência com as características próprias da
instituição militar e da sua eficiência.