9 DE JANEIRO DE 2014
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sobre isso, se quer falar de uma forma consistente sobre essa nuvem, essa poeira, em torno da quebra do
desemprego, que não tem em conta nem os 10 000 emigrantes por mês nem o afluxo de desempregados que
todos os meses chegam aos centros de emprego; se quer falar realmente com alguma esperança quando
saíram do País 10 000 portugueses por mês, Sr.ª Deputada!
Quer falar de quê?! É que o seu compromisso é no sentido da continuidade destes problemas sociais, da
continuidade da emigração, da continuidade do desemprego. Esta é a moeda do vosso horizonte azul!
Há alguma esperança? Porventura há, Sr.ª Deputada, e tudo faremos para a tornar real: é a saída deste
Governo, que não tem condições para continuar porque toda a política de austeridade é um fracasso. E não há
sequer qualquer promessa de uma linha azul no horizonte. Sr.ª Deputada, não há qualquer sinal de esperança
naquela irrevogável linha azul do horizonte que aqui quis trazer.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Meireles, em primeiro lugar, quero
dizer-lhe que, para o Partido Comunista Português, não restam quaisquer dúvidas de que os objetivos deste
pacto de agressão assinado pelo Partido Socialista, pelo PSD e pelo CDS com o FMI, o Banco Central
Europeu e a União Europeia têm vindo a ser cumpridos.
Prova disso são as sucessivas avaliações positivas — positivas para os chamados credores, a que o CDS
não hesita em chamar parceiros, mas, ao mesmo tempo, captores da nossa soberania — e os resultados que
estas políticas têm vindo a produzir: a concentração da riqueza, amealhando os maiores grupos económicos
cada vez mais lucros; a destruição dos serviços públicos e as privatizações; e o empobrecimento generalizado
da população, com a diminuição dos salários, que, pelos vistos, não parará por aqui, e com o alastramento do
desemprego, ao contrário daquilo que a Sr.ª Deputada quis fazer crer.
Tem vindo a ser denunciado não só por nós mas também por várias forças o embuste em torno dos
números do desemprego que, apesar de terem vindo a diminuir, são, ao mesmo tempo, acompanhados pela
diminuição dos números do emprego total e pelo aumento da emigração de jovens e de pessoas com idade de
ainda poderem trabalhar em Portugal.
Portanto, os portugueses que são forçados a sair do seu País não estão inscritos nos centros de emprego
e, como tal, não contam para os números, mas, infelizmente, os partidos da maioria ainda usam isso como
forma de branquear os dados do desemprego.
Alerto também a Sr.ª Deputada para o facto de, apesar de o desemprego em Portugal ter diminuído uma
décima — o que também não é propriamente motivo de regozijo —, por exemplo, o desemprego jovem
continuar a subir três décimas, o que talvez deva ser mais motivo de preocupação para esta Assembleia da
República do que a uma décima que diminuiu no desemprego ser motivo de regozijo.
A Sr.ª Deputada quis lançar ou, pelo menos, aprofundar — e vou terminar, Sr. Presidente — a teia de
ilusões em que o CDS vem insistindo, a de que, chegados ao fim da vigência deste pacto, um novo mundo se
abrirá perante os portugueses: um mundo de crescimento, um mundo de prosperidade e de resgate da nossa
soberania.
Sr.ª Deputada, sabe tão bem quanto sabe o PCP que não é verdade que, após a vigência deste pacto de
agressão, os portugueses venham a viver melhor, a não ser que também as políticas sejam outras.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — E nada disso está encerrado no conteúdo da sua intervenção. Bem pelo
contrário, é a continuidade das políticas de austeridade, de penalização dos trabalhadores, de roubo nas
reformas, nos subsídios, nos salários.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!