11 DE JANEIRO DE 2014
17
A escola inclusiva é uma realidade, mas uma realidade que precisa de evoluir, como veio a ser
demonstrado pelo alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, que revelou algumas fragilidades
do sistema.
É na escola pública que se encontra a quase totalidade dos alunos com necessidades educativas especiais
e é por isso da responsabilidade direta do Governo, tanto a nível legislativo como a nível de gestão, encontrar
as respostas adequadas, com vista a não só garantir o acesso ao sistema de ensino a todas as crianças e
jovens com necessidades educativas, como criar condições para que a sua progressão dentro do sistema seja
condigna, real e adequada a cada caso.
O desafio é enorme, mas maiores ainda são as necessidades destes alunos. É preciso garantir que os
currículos educativos individuais (CEI) servem não apenas para manter as crianças nas escolas mas também
para lhes fornecer competências que, de alguma forma, ajudem a melhorar a sua autonomia.
É preciso garantir que os pais são intervenientes ativos na vida escolar dos seus filhos e não são arredados
para fora do processo.
É necessário garantir que os docentes do ensino regular sejam, também eles, peças fundamentais para
progressão destes alunos, contribuindo ativamente na elaboração dos PEI (programas educativos individuais)
e dos CEI (currículos educativos individuais) de cada um, assim como na sua execução.
Durante esta Legislatura, o Grupo de Trabalho de Educação Especial tem auscultado toda a comunidade
educativa e é consenso quase generalizado de que é preciso ajustar a legislação à realidade destas crianças e
às alterações do sistema educativo, refletidas no alargamento da escolaridade obrigatória e nas avaliações
externas feitas no final de cada ciclo.
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) é uma ferramenta importante
em todo este processo. Mas é apenas isso: uma das muitas ferramentas que professores e profissionais têm
ao seu dispor para classificar as necessidades dos seus alunos e encontrar as respostas mais adequadas na
comunidade e no sistema educativo a partir desta classificação.
Além da CIF, existem outros fatores que determinam quais os apoios educativos, técnicos e pedagógicos a
que cada aluno com necessidades educativas especiais deve e tem de ter acesso.
Mas a questão central está longe de ser a utilização ou não da CIF na elaboração do PEI (programa
educativo individual). A questão central está em perceber se a educação especial deve abranger todos os
alunos que, durante o seu percurso, revelam dificuldades de aprendizagem e insucesso, ou apenas aqueles
que têm necessidades educativas especiais permanentes ou temporárias.
Por todas estas razões, como já aqui foi dito, o Ministro da Educação e Ciência informou que tem em curso
uma avaliação do quadro normativo da educação especial para se proceder às devidas alterações.
Ainda assim, e porque achamos que é necessário ter em conta todas as avaliações credíveis sobre esta
matéria, consideramos que é importante requerer ao Conselho Nacional de Educação (CNE) as suas
recomendações acerca das políticas públicas de educação especial e, desta forma, enriquecer todo o
processo anunciado.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Paula
Baptista.
A Sr.ª Paula Baptista (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde foi aplicada pelo Decreto-Lei n.º 3/2008, pelo anterior Governo PS,
impondo às escolas a aplicação exclusiva deste instrumento para efeito de atribuição dos apoios de educação
especial, contrariando os pareceres de toda a comunidade escolar.
Para que se perceba, os verdadeiros objetivos que estão por trás da aplicação da CIF são os de reduzir os
alunos com necessidades educativas especiais. O número de alunos que deixou de usufruir dos serviços de
educação especial, desde a entrada em vigor desta classificação, no ano letivo de 2008/2009, foi, nas escolas
públicas, de cerca de 15 986.
O PCP, há muito, tem vindo a manifestar-se contra a aplicação da CIF e a apresentar várias propostas
alternativas no sentido de aproximar a educação inclusiva das reais necessidades dos alunos. A realidade é