18 DE JANEIRO DE 2014
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convenientes, escondem-se as inconvenientes, põe-se um relógio a anunciar o fim da troica e do pacto de
agressão, escondendo, afinal, que a agressão vai continuar com outro nome.
Como se estivesse a navegar à vista, vai dizendo: ou a saída limpa ou um programa cautelar. A afirmação
fica feita e é tomada como verdade, porque quem quiser desmontá-la e explicá-la, como sabe, está sempre a
perder. Então, o que fazer nestes 5 minutos de que disponho neste debate? A solução é confrontar a
afirmação com a realidade, com a vida, com a situação dramática de milhões de portugueses.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Falou em diminuição do desemprego, escondendo que, no seu
mandato, foram destruídos mais de 300 000 postos de trabalho líquidos, repito, líquidos!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — E, já agora, Sr. Primeiro-Ministro, não quer aproveitar a ocasião para
corrigir aquele engano dos tais 120 000 postos de trabalho criados, que, na prática, foram 21 000?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Mas, no emprego, a sua verdade, a sua afirmação não contou com os
600 trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo que estão ameaçados de desemprego.
O Sr. Primeiro-Ministro também não falou dos milhares de profissionais da saúde que correm o risco de
perder o seu posto de trabalho, designadamente com a transferência de hospitais para as misericórdias.
Falou, mas não falou bem, dos 5533 candidatos às bolsas de investigação, onde apenas 508 bolsas foram
atribuídas, ou seja, mais de 5000 investigadores sem bolsa.
São estes os sinais positivos que o senhor fala, em termos de emprego?
A propósito, quanto à questão dos bolseiros, o Sr. Ministro respondeu mal, porque o problema não está em
cortar bolsas e substituí-las por programas doutorais. A solução seria colocar os investigadores integrando-os
no sistema, porque, se não o fizer, naturalmente, irá haver mais desemprego, mais emigração, e estamos a
falar de gente qualificada.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
Na saúde, estes exemplos trágicos que têm vindo a público sobre as colonoscopias, que demoram tanto
que as pessoas passam a correr risco de vida.
Também o exemplo trágico dos meios de emergência, que não socorrem as pessoas por falta de verbas
para contratar médicos e enfermeiros para garantir escalas nas 24 horas.
Ou o caso dos doentes oncológicos do Hospital de Santo António, no Porto, com tratamentos suspensos
por avaria de equipamentos e falta de verbas para serem reparados, tal como o adiamento de cirurgias por
falta de material clínico no Hospital de S. José ou no Centro Hospitalar do Algarve.
O Sr. Primeiro-Ministro diz sempre que isto é discurso da oposição, que é uma crítica sem fundamento.
Como é que entende a afirmação de um responsável pela administração de um hospital, que colocou esta
questão dilemática: «Antes ir a tribunal ser julgado por atos de gestão do que cometer homicídio por
negligência, ou seja, não tratar as pessoas por falta de meios». Que resposta dá a este responsável —
insuspeito, na sua opinião —, que sente a necessidade de vir a público dizer que se corre o risco, hoje, em
Portugal, de se morrer mais cedo por falta de tratamento, por falta de apoio na saúde? Responda, Sr.
Primeiro-Ministro!
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.