I SÉRIE — NÚMERO 38
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do número de investigadores. Talvez com um gráfico ou com um desenho perceba. Estamos a ficar sem
cientistas, sem investigação, e sem ciência não há futuro.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o S. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Deputada, muito rapidamente, gostaria de lhe dizer, em primeiro lugar,
que os dividendos que o Estado deixa de receber são, evidentemente, descontados no preço do ativo quando
ele é vendido. Portanto, Sr.ª Deputada, é exatamente o contrário daquilo que disse. Creio que alguma
observação mais cuidada daqueles assessores que lhe preparam estas matérias a faria concluir que o Estado
fez uma boa alienação.
Em segundo lugar, a Sr.ª Deputada insiste na matéria dos investigadores, mas eu, porque não deve ter
ouvido a resposta que dei, continuo a dizer-lhe que essa comparação não pode ser feita diretamente, na
medida em que nós temos outros investigadores em programas doutorais que estão também no processo de
investigação.
Mas, Sr.ª Deputada, o que nós queremos é que eles possam ir para as empresas e não, como há pouco foi
sugerido, que eles pudessem ser integrados no sistema público. Não, Sr.ª Deputada, o sistema público não
tem que gerar eterno nem ilimitado emprego para os investigadores; eles têm é de poder estar ao serviço da
economia e nas empresas. E é aí que nós temos tomado medidas que são incentivos objetivos para que as
empresas portuguesas possam recrutar mais investigadores e mais cientistas, mais doutorados, ao contrário
do que acontece hoje em Portugal, e distanciando-se daquilo que é a prática de muitos outros países
europeus.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, reparo que, quando as perguntas
não lhe agradam, é mal-educado. Não é a primeira vez que tal acontece, mas também não vim tomar chá
consigo, pelo que não há nenhum problema.
Porém, tem de responder às perguntas da oposição, que tem toda a legitimidade para cá estar e o
questiona sobre o que está a fazer ao País.
O que o gráfico que exibi há pouco mostra é que estamos a ficar sem investigação em Portugal. O que o
Sr. Primeiro-Ministro diz é que agora acaba com tudo, mas talvez crie um outro qualquer programa, daqui a
uns anos. A última vez que ouvimos isso foi sobre a formação para adultos; dois anos depois, continuamos
sem formação para adultos em Portugal.
O Sr. Primeiro-Ministro bem pode falar de uma nova economia, mas a verdade é que ataca a educação,
ataca a qualificação, ataca a ciência e, sem qualificação, sem investigação, não há nenhum novo modelo de
economia para onde estejamos a caminhar. O seu modelo é o velho de sempre, é o de salários baixos.
E, Sr. Primeiro-Ministro, mesmo a terminar este debate, e porque é de retrocesso que falamos, direi o
seguinte: vamos votar daqui a pouco uma proposta de referendo que a sua bancada inventou para parar
direitos fundamentais, para parar decência no nosso País. Essa foi a única forma que o seu partido arranjou
para travar a coadoção por casais do mesmo sexo, matéria em que poderíamos avançar e que, sem qualquer
impacto orçamental, iria resolver problemas concretos de crianças e de famílias.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — E como tudo o que vem do seu Governo é retrocesso, tudo fez para voltar
atrás. De tal forma que, pondo as garras do totalitarismo de fora, impôs à sua bancada a disciplina de voto,
numa questão de liberdade de consciência.
Sr. Primeiro-Ministro, tudo o que o senhor conhece é o regresso ao passado. Saiba que há um País que
não quer nenhuma cruzada moral, saiba que há um País que o que quer é decência e sabe que direitos
humanos não se referendam.