24 DE JANEIRO DE 2014
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Sr. Presidente, Srs. Deputados: O investimento público em Ciência e Tecnologia registou um máximo em
2009, pese embora nunca tenha atingido 1% do PIB, como o Governo PS de então propagandeava. Aliás, a
política de desinvestimento público teve início com o anterior Governo PS e regista agora um agravamento
significativo da parte do atual Governo.
A despesa nacional em I&D dividida pelo número de investigadores ativos é inferior a um terço da média da
União Europeia a 28 e tem regredido nos últimos anos. Mas aumentou significativamente o número de
trabalhadores científicos com vínculo precário a trabalhar em I&D.
Os avanços registados no plano da investigação científica, em Portugal, devem-se, sobretudo, ao empenho
e à dedicação do trabalho e esforço público que alimenta o Sistema Científico e Tecnológico Nacional, porque
o esforço privado foi sempre residual.
Para que fique bem claro, o problema não é o sistema público de investigação e ciência ter investigadores
a mais, que não tem, tem a menos. O problema é o sistema privado não ter investigação própria e se alimentar
à custa do investimento público — esse, sim, é o problema que se coloca ao nosso setor.
O novo paradigma, anunciado pelo Governo PSD/CDS, é subordinar a produção científica e tecnológica ao
mercado privado, disponibilizando a I&D nacional aos grupos económicos e financeiros para que potenciem os
seus lucros à custa do Sistema Científico e Tecnológico Nacional.
Esta estratégia é inseparável do caminho de destruição das funções sociais do Estado e de concentração
do financiamento público nos privados, em detrimento do desenvolvimento económico e social do País.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Da parte do PCP, tudo faremos para responsabilizar o Governo e o
Ministro da Educação e Ciência pela decisão inaceitável de desmantelamento do Sistema Científico e
Tecnológico Nacional.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Fazemo-lo em defesa da dignidade da vida de milhares de pessoas que
trabalham neste setor, em defesa de um trabalho de décadas, e em defesa de um País mais justo e soberano
que concretize os valores de Abril no futuro de Portugal.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Sr.ª Deputada Rita Rato, inscreveram-se quatro Srs. Deputados
para pedir esclarecimentos. Depois, informará a Mesa se responderá individualmente ou em conjunto.
Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Elza Pais.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, começo por saudar o PCP pela escolha
deste tema. É um debate que não podíamos deixar de fazer. E não podíamos deixar de fazer porque a direita,
que hoje está no poder, além de não querer um País com qualificações e um País formado, está a destruir as
classificações existentes e as formações altamente avançadas que tínhamos alcançado no nosso País. Está a
decapitar este capital extraordinário com que nos afirmávamos no mundo.
E a pergunta que urge fazer é muito simples: quem é que tem medo da ciência? Quem é que tem medo da
qualificação?
Vem aí um novo paradigma. Mas que paradigma é esse? O paradigma da decapitação? O paradigma da
desqualificação? O paradigma da não formação? O paradigma do empobrecimento real, mas também do
empobrecimento intelectual?
O Sr. Acácio Pinto (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Elza Pais (PS): — O que está hoje a acontecer com a ciência é absolutamente lamentável, é
gravíssimo, é inaceitável.
Os cientistas e a ciência merecem ser tratados de outro modo, merecem ser tratados com dignidade, com
respeito e com responsabilidade, que é o que não está a acontecer.