I SÉRIE — NÚMERO 40
4
Além dos cortes brutais e lamentáveis que já foram apresentados nas bolsas, tendo deixado 90% dos
investigadores de fora, houve um corte de 65%, do ano passado para este ano, nas bolsas de pós-
doutoramento e um corte de 40% nas bolsas de doutoramento.
Sabem para onde têm de ir os 5000 investigadores que quiserem trabalhar na área para a qual foram
formados? Têm de ir para o estrangeiro ou, então, têm de fazer trabalho não qualificado. Isto é indescritível!
Não há palavras para classificar — é inclassificável! — o que está a acontecer com a ciência no nosso País.
E os altos investigadores estão aí e vêm também denunciar esta machadada que a ciência está a levar.
Alexandre Quintanilha, entre muitos e muito outros, dão conta desta machadada que a ciência está a levar.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Vou terminar com um pergunta para a qual
não peço, obviamente, uma resposta ao PCP, mas com a qual dou uma oportunidade à direita de poder
enquadrar essa resposta nas perguntas que tem a fazer.
Dizem que o orçamento para a ciência não diminuiu. Então, se o orçamento para a ciência não diminuiu,
onde está o dinheiro?!
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — É que as bolsas diminuem, os contratos diminuem, os projetos diminuem. Então,
para onde é que foi esse dinheiro? Digam-nos, para nós sabermos, porque não sabemos e temos o direito de
saber. Nós, os portugueses e os investigadores, temos o direito de saber e exigimos essa resposta à direita
que hoje está no poder. Se não há diminuição de orçamento, então, para onde é que vai o dinheiro que foi
alocado à rubrica da ciência?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Elza Pais, agradeço a questão que aqui coloca ao
PSD e ao CDS. E aproveito para responder, de acordo com aquela que é a visão do PCP, para onde é que
está a ir o dinheiro destinado à investigação científica, que devia estar ao serviço do desenvolvimento do País
mas não está.
É que a alteração de paradigma que este Governo quer introduzir é profundamente ideológica, é entender
que o Sistema Científico e Tecnológico Nacional não deve estar ao serviço do desenvolvimento económico e
social do País mas deve alimentar a necessidade de os grupos económicos privados terem fontes de
financiamento de investigação que servem os seus lucros e a maximização dos mesmos.
Portanto, a quebra no investimento é grave. E o PCP, aquando da discussão, na especialidade, do
Orçamento do Estado para 2014, disse que a redução de 26 milhões de euros no orçamento da FCT,
relativamente aos valores de bolsas de investigação, teria um impacto gravíssimo na vida de milhares de
investigadores e alertou o Sr. Ministro da Educação e Ciência para a necessidade de assumir as
consequências políticas desta decisão.
É que o Governo, o Sr. Ministro da Educação tem estado a «atirar areia para os olhos» das pessoas, ao
dizer que, agora, não estão a atribuir bolsas individuais mas estão a fazer programas doutorais. Ora, isso não
é verdade! O número de programas doutorais que vão a concurso nem sequer permite chegar a 10% do valor
de bolsas individuais atribuídas.
Portanto, aqui, a questão é outra, é a de perceber se o Sistema Científico e Tecnológico Nacional deve
estar ao serviço do desenvolvimento económico e social do País, alavancado num sistema público de
investigação, ou se deve apenas existir para alimentar os lucros dos grupos económicos e financeiros. E aí
entendemos que esta é uma questão profundamente ideológica que contraria a Constituição e o papel das
funções sociais do Estado, designadamente no que respeita à educação e à investigação.