I SÉRIE — NÚMERO 40
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definição de uma estratégia de desenvolvimento económico e social que assente na investigação e na ciência
ao serviço do País, da melhoria das condições de vida, do combate à pobreza e das questões fundamentais
num caminho de avanço civilizacional que este Governo tem negado.
Também importa dizer que o caminho seguido de agravamento da precariedade, do recurso a bolsas e a
projetos ou, então, a programas doutorais, como agora atiram, não vai resolver o problema de fundo que se
traduz na inexistência de profissionais integrados na carreira e que são sujeitos a esta arbitrariedade e
precariedade de todos os anos terem de se admitir a um concurso quando suprem necessidades permanentes
das instituições.
Por isso, entendemos que é fundamental não apenas a demissão deste Governo e a derrota desta política
mas um caminho completamente alternativo: colocar ao serviço do País um sistema científico e tecnológico
nacional que dê resposta aos seus desígnios, que cumpra aquilo que é um caminho de avanço consagrado na
Constituição e que não exista apenas para financiar os lucros dos grupos económicos e financeiros.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.a
Deputada Heloísa
Apolónia.
A Sr.a Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.
a Deputada Rita Rato, gostaria de saudá-la pela
declaração política e pelo tema que trouxe a debate.
Sr.a Deputada, os bolseiros de investigação, convenhamos, têm sido muito maltratados pelos sucessivos
governos. A precariedade — já que tanto se fala hoje de paradigma relativamente a esta matéria — tem sido o
paradigma desta atividade e há bolseiros que se mantêm assim durante anos, anos, anos e anos.
Ocorre dizer que este Governo chegou ao limite dos limites. Na verdade, pela opção que tomou
relativamente ao desinvestimento na investigação, o que temos a oportunidade de ver é que a aprovação das
candidaturas a bolsas de investigação é de tal modo residual que o número global se torna absolutamente
ridículo, ridículo ao ponto de pôr em causa, de facto, a investigação no País. Ora, pondo em causa a
investigação no País, põe-se em causa uma potencialidade de desenvolvimento do País. Portanto, estamos a
falar de algo muito sério.
Depois, vamos ver o que acontece a estas pessoas, como já aqui foi referido, altamente qualificadas. O
Primeiro-Ministro dá-lhes dois caminhos: ou se encaixam em empresas, de acordo com as necessidades do
mercado e das próprias empresas, ou emigram e vão fazer investigação ao serviço do desenvolvimento para
outros países.
Sr.a Deputada, já percebemos o que resulta desta emigração forçada, que é algo que queremos combater
vivamente, porque o que queremos é que as pessoas tenham oportunidades neste País e que essas mesmas
oportunidades e potencialidades se reforcem e cresçam.
Relativamente à matéria das empresas e dos investigadores deixarem de estar ao serviço do Estado e
passarem a estar ao serviço dos interesses das empresas, é algo que tem de ser explanado nesta Assembleia
da República, porque estamos a falar de algo, eventualmente, bastante problemático. O Estado propõe-se
pagar investigação para, a curto prazo, servir os interesses das empresas e fundamentalmente das grandes
empresas.
Sr.a Deputada, imagino o que é que os investigadores de uma multinacional como a Monsanto concluem
nas suas investigações. Será que querem lá ficar?
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.a Deputada.
A Sr.a Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino, Sr. Presidente.
A investigação do Estado resulta, pois, numa imparcialidade necessária ao País e às empresas. Sr.a
Deputada, se estamos todos de boa-fé é assim que temos de verificar as coisas. A investigação serve ao
Estado, aos cidadãos e também às empresas. Agora, fazer investigação concentrada nos interesses das
empresas e esquecer o potencial de desenvolvimento para o Estado e a utilidade para os cidadãos é fazer
grande batota e é o Estado a lavar as suas mãos numa coisa extraordinariamente grave.