24 DE JANEIRO DE 2014
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A Sr.a Rita Rato (PCP): — Por isso, temos uma visão completamente distinta daquela que o Governo tem.
É que o Estado não deve servir as multinacionais, o Estado, conforme consagra a nossa Constituição, deve
servir o desenvolvimento económico e social do País. Não deve ser uma opção de classe para servir as
multinacionais estrangeiras, deve responder às necessidades das suas populações e é por isso que
defendemos um sistema científico e tecnológico forte, público e que dê resposta a estas necessidades.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para a próxima intervenção, também sobre bolsas para
investigação científica, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: As candidaturas a doutoramento e pós
doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, na sequência, aliás, do Concurso Investigador FCT
e de outros episódios recentes de turbulência com a Fundação para a Ciência e Tecnologia, não são apenas
mais um corte, não são apenas uma circunstância dramática que atinge milhares de pessoas, milhares das
pessoas mais bem formadas do País, nas quais se depositam esperanças da reprodução económica, da
reprodução da capacidade crítica, da reprodução da capacidade de transmissão de conhecimentos. Não é
apenas isso e é por isso que a sociedade civil está a reagir de forma tão epidérmica como aquela a que
estamos neste momento a assistir.
É que toda a gente já percebeu que isto é o «cientificídio». Isto é terminar o desenvolvimento do País na
área da ciência. É interrompê-lo, é pô-lo entre parêntesis durante muitos anos, e é contra esta circunstância
que todos, de uma forma mais ou menos direta, nos estamos a revoltar. Trata-se de uma insubmissão cidadã
a um plano premeditado de «cientificídio». Em nome de quê? Em nome de um outro paradigma. Recusa-se «o
pássaro na mão por dois a voar».
Mas qual é o outro paradigma? Onde é que está o paradigma?
Os Deputados do PSD, numa pergunta que dirigiram ao Ministro da Educação e Ciência, embora elogiando
o novo paradigma, perguntam qual é a alternativa para milhares de pessoas que vão ficar fora da condição de
investigadores. Perguntaram qual é a alternativa mas hoje não tiveram a coragem de dizer que estão a discutir
qual é a alternativa. É porque não há alternativa! A alternativa é o desemprego, a alternativa é a emigração, a
alternativa são 5000 pessoas, das mais qualificadas do País, que ficam à margem do progresso do nosso
País. É disto que se trata. Não há alternativa!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Então, por que é que o Governo insiste e o Primeiro-Ministro aqui veio dizer,
no debate quinzenal, que há um outro paradigma, uma outra alternativa, uma outra circunstância? Qual seria?
A do investimento privado? Bom, mas no investimento privado não damos fé de que haja o que quer que seja
para a vinculação e para a contratação de investigadores em ciência. Então, é preciso que a direita assuma
claramente que os apoiantes do Governo é que decidiram fechar as portas da ciência em Portugal.
Associamos estas informações a outras. Vemos no Orçamento do Estado que há cortes brutais para os
laboratórios do Estado. Quanto aos laboratórios associados, vemos a posição deles: «Nós temos diminuição
de financiamento. Não estamos a aumentar o número de contratos com os investigadores científicos». E
perguntamos: «Então, quem é que está a aumentar?» Ninguém está a aumentar!
Portanto, isto é o paradigma do zero, da nulidade absoluta. Não há paradigma nenhum! É uma mistificação,
é um embuste, é um logro! E é essa questão que deveria ser aqui debatida politicamente por parte dos
partidos da direita e definitivamente desmascarada.
É inacreditável que não haja uma posição acerca disso. O Bloco de Esquerda já percebeu que a maioria se
acobardou politicamente e não quer discutir com o Ministro que é o verdadeiro rosto desta matéria, que é o
verdadeiro responsável por este plano ideologicamente sustentado mas que, na prática, é de «cientificídio». A
maioria não quer discutir isso, não quer fazer isso e chumbará todas as tentativas de trazer o Ministro da
Educação à Assembleia da República para fazer este debate.