1 DE FEVEREIRO DE 2014
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Mas, voltando ao tema desta autossatisfação e deste autocontentamento, precisamente no momento em
que o Governo anunciava essa perspetiva «do amanhã que canta» já estar aí ao virar da esquina, centenas de
milhares de trabalhadores, de reformados e pensionistas recebiam a notícia, através da leitura do seu recibo
de vencimento, de mais um corte brutal nos seus rendimentos. Muitos ficaram em estado de choque, e
usamos esta expressão concreta porque, de facto, é chocante ouvir esta maioria e um Primeiro-Ministro dizer
que agora é que é, agora é que tudo vai ser, quando surge uma nova avalanche nestes cortes brutais sobre os
rendimentos das pessoas.
Foi também durante este período que tivemos uma informação que gostaríamos que o Sr. Primeiro-Ministro
explicasse, e explicasse de uma forma clara.
Já sabíamos das vossas opções em relação às PPP, em relação aos swaps e em relação aos apoios e aos
negócios que têm sido feitos — faz-se por opção! —, mas vêm sempre com argumento da distribuição dos
sacrifícios equitativos. Ora, o Tribunal de Contas informou que este Governo ocultou benefícios fiscais no valor
de 1045 milhões de euros dados às chamadas SGPS, sociedades gestoras de participações sociais, que
controlam as empresas dos grandes grupos económicos. Ou seja, Sr. Primeiro-Ministro, falamos de um valor
superior aos cortes nas pensões, nas reformas e nos salários da administração política.
Sr. Primeiro-Ministro, como é que justifica, perante a Assembleia, mais esta escandalosa benesse dada,
maioritariamente, a um escasso número de grandes grupos económicos quando, ao mesmo tempo, vem
impondo pesadíssimos sacrifícios a quem trabalha ou quem vive da sua reforma e da sua pensão? Não é uma
acusação que parte do PCP, é uma afirmação feita pelo próprio Tribunal de Contas. Explique esta contradição!
Se não explicar — e pode não o fazer —, acabou essa conversa de que os sacrifícios estão a ser distribuídos
equitativamente. Não! Quem sofre é a maioria dos trabalhadores, quem beneficia é o grande capital financeiro.
Aplausos do PCP.
A Sr.a Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.a Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, quero garantir-lhe que não
há nenhum autocontentamento relativamente ao País nem ao Governo. O que existe, sim, é uma coisa
diferente, é uma constatação de que, quando olhamos para os dados da economia e do emprego, bem como
para os dados da balança externa e para os dados da execução orçamental, os resultados se encontram na
direção que é desejada para o País e sem a qual não conseguirá um caminho de crescimento para futuro. É
este o aspeto, Sr. Deputado.
Portanto, não há nenhum autocontentamento nem nenhum milagre. Os resultados que vamos obtendo, que
são resultados importantes que mostram que o País, finalmente, está a crescer — não está a crescer tanto
quanto eu gostaria e, julgo, tanto quanto o Sr. Deputado gostaria —, mas está a crescer, na sua economia,
desde o segundo trimestre do ano passado.
O desemprego também tem vindo a descer, não tanto quanto eu desejaria, mas está a descer. Ainda
agora, esta manhã, foram divulgados os dados do Eurostat relativamente ao desemprego, que mostram que
Portugal foi um dos países, na Europa, onde essa taxa mais desceu, em termos anuais. Passámos de um
nível aproximado de 17,7%, em janeiro do ano passado, para 15,4%, este ano, Sr. Deputado.
Não estou satisfeito com este resultado, na medida em que 15,4% ainda é uma percentagem muito elevada
para o desemprego. Então quando falamos de jovens portugueses, em que essa incidência é perto do dobro, é
quase intolerável. No entanto, não podemos dizer que estamos pior do que estávamos quando, de facto,
temos menos desemprego e, sobretudo, quando temos mais emprego.
Sei que há várias teorias a propósito da descida do desemprego, mas ainda não vi nenhuma teoria
consistente para explicar, então, por que é que o número de empregos está a aumentar, uma vez que temos
praticamente estabilizados os ativos, em Portugal, ao longo dos últimos trimestres.
Protestos do BE.
Se há mais emprego reconhecido pelo Eurostat, que é quem reconhece esses valores em todos os países
da União Europeia, então, por que razão é que haveria de mostrar-me contrariado, Sr. Deputado?