I SÉRIE — NÚMERO 55
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É imperioso que o Estado e as instituições da Ucrânia sobrevivam aos perigos do colapso e da anarquia
que, a instalar-se, agravaria dramaticamente as condições, já muito penosas, em que se encontra o povo
ucraniano.
É, pois, necessário garantir o fim da violência e travar a emergência dos grupos políticos extremistas que
pretendem, alimentando-se do caos e da desordem, comandar o processo político ucraniano.
A comunidade internacional deve acompanhar este esforço de regresso à estabilidade política e social,
assegurando os necessários meios num espírito de solidariedade efetiva entre os povos.
Considerando a necessidade de defender o processo democrático da Ucrânia e as suas instituições
legítimas, as liberdades cívicas, o direito irrecusável do povo ucraniano a lutar pelos seus direitos e pela
realização das suas aspirações, bem como a necessidade de preservar a Ucrânia de interferências externas
ilegítimas, e de, livremente, decidir o seu destino, em paz e em democracia, a Assembleia da República apela
às autoridades instituídas e aos partidos democráticos em geral que concentrem os seus esforços na busca de
soluções pacíficas, alcançadas num espírito de diálogo, de tolerância e de compromisso.
Esse espírito de moderação é a marca da democracia liberal e europeia a que o povo ucraniano justamente
aspira e pela qual lutou, e é indispensável a uma solução para a grave crise política e social compatível com a
própria sobrevivência e viabilidade de uma Ucrânia democrática, dotada de um regime político alinhado com
os interesses do seu povo.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Vamos agora votar o voto n.º 176/XII (3.ª) — Relativo à situação na
Ucrânia (PCP).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP, votos a favor do PCP e
de Os Verdes e a abstenção do BE.
Era o seguinte:
Considerando a recente e dramática evolução da situação na Ucrânia, onde, após meses de
desestabilização e de escalada de violência — desencadeadas com o anúncio da suspensão da assinatura do
acordo de associação com a União Europeia em novembro passado —, foi consumado um autêntico golpe de
estado levado a cabo pelos setores mais retrógrados e revanchistas da oligarquia ucraniana, com o apoio dos
Estados Unidos da América (EUA) e da União Europeia (UE);
Sublinhando que os acontecimentos evidenciam a instrumentalização do justo e enorme descontentamento
acumulado entre os trabalhadores e amplas camadas da população ucraniana, resultante do desastre social e
económico e das profundas injustiças e desigualdades sociais causadas pelo processo de restauração do
capitalismo que foi levado a cabo pelas classes dominantes da Ucrânia durante as últimas duas décadas e por
sucessivos governos, incluindo o governo do partido de Yanukovich;
Denunciando a brutal e aberta ingerência dos EUA e da UE na situação interna da Ucrânia, promovendo a
desestabilização, apoiando ativamente forças políticas e paramilitares de cariz fascista e neonazi e
fomentando o exacerbar de perigosas tensões, divisões e clivagens neste País;
Salientando que os EUA e a UE pretendem assegurar o domínio político, económico e militar da Ucrânia,
prosseguindo a expansão da NATO junto da fronteira da Federação Russa e avançando, assim, na sua
escalada de tensão e de confronto com este País, realidade que representa uma acrescida ameaça à
segurança e à paz na Europa e no mundo;
Alertando para a extrema gravidade e perigo que representa o avanço das forças xenófobas e de cariz
fascista e neonazi na Ucrânia, que desrespeitam e atropelam violentamente direitos e liberdades, no que
constitui um grave perigo para a democracia e o futuro deste País;
Denunciando o clima generalizado de intimidação que reina na capital ucraniana e em vastas regiões do
País, entregues ao livre arbítrio das milícias armadas de cariz fascista e neonazi, passando por ameaças,
perseguições e agressões a dirigentes políticos e deputados do Parlamento ucraniano;
Denunciando a campanha anticomunista e os ataques perpetrados contra os militantes, dirigentes e sedes
do Partido Comunista da Ucrânia, assim como anunciadas intenções de limitar ou mesmo ilegalizar a sua
atividade;