I SÉRIE — NÚMERO 57
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claros quando dissemos que isto não ia lá com sensibilizações. Trata-se de cumprimento da lei e não de
sensibilização.
O que seria fundamental acontecer era, da parte do Governo, um sinal claro de que o patronato tem de
cumprir aquilo que é um princípio constitucional. Da parte do PCP, continuaremos sempre a exigir isso, porque
é fundamental. E é inaceitável que a CIP tenha afirmado aqui, nesta Casa, que está indisponível para resolver
o problema das discriminações desde que represente um custo para as empresas.
Importa também dizer, Sr.ª Deputada Elza Pais, que é verdade que o pacto da troica trouxe desgraça e
destruição na dignidade da vida de milhões de portugueses. É verdade que as alterações ao Código do
Trabalho atingiram de forma particularmente grave os trabalhadores e as mulheres trabalhadoras; é também
verdade que o Decreto-Lei n.º 70/2010, que cortou nas prestações sociais, foi aplicado pelo anterior Governo,
do Partido Socialista, quando o PCP alertava para o que isso significaria de cortes nos abonos de família e
num conjunto de outras prestações sociais; e também é verdade que, na altura, quer PS, quer PSD, quer CDS
votaram a favor desse Decreto-Lei, aquando da respetiva apreciação parlamentar pedida pelo PCP.
Na hora da verdade, quando se trata de assumir uma posição de classe relativamente aos problemas da
sociedade, o que temos tido sempre da parte do PS, do PSD e do CDS é uma posição de compromisso com
um pacto de agressão aos trabalhadores e ao País, e é por isso que seria determinante que o PS, de uma vez
por todas, assumisse que ou quer estar com o pacto ou quer estar com a Constituição da República
Portuguesa.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para formular uma pergunta, pelo Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, queria saudá-la pela importância
da declaração política que aqui fez hoje e pela invocação da longa luta em nome do princípio constitucional da
igualdade entre homens e mulheres e de quão longe ela está.
Dados recentes apontam para o escavar da desigualdade salarial entre homens e mulheres, que hoje está
perto dos 18%, desigualdade que se aprofundou muito nos últimos cinco anos.
Pergunto-lhe se nos acompanha na perspetiva de que o argumento da crise é um instrumento para o
escavar das formas de dominação e de desigualdade ainda existentes entre homens e mulheres.
Pergunto-lhe também se considera que a perspetiva desta direita de fomentar a natalidade — esta direita
tem destruído os direitos das famílias, as oportunidades das crianças e vem agora com a ideia de que as
mulheres «bom, enfim, a tempo parcial isto resolve-se, porque elas vão para casa, têm mais tempo e, assim,
têm mais filhos» — faz algum sentido à luz do princípio constitucional que aqui recordou, e bem.
Na verdade, as políticas desta direita têm alvos, que a Sr.ª Deputada apontou, e bem. Os alvos são as
crianças — as crianças perdem o direito ao abono de família e as que têm necessidades educativas profundas
perdem o direito aos apoios que tinham —, as mulheres e as famílias. São estes os alvos das políticas desta
direita, quando sabemos também, como aqui recordou, que há portugueses que conseguiram subir na lista
dos multimilionários.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, agradeço as questões que
colocou.
De facto, a luta das mulheres trabalhadoras pela igualdade salarial e pelas 8 horas de trabalho é uma luta
que leva já mais de 100 anos, é uma luta em nome do progresso e da justiça social, pela qual a classe
operária, os trabalhadores e as mulheres trabalhadoras, na linha da frente, sempre, mas sempre, lutaram.
É fundamental recordar que muitas das conquistas da Revolução de Abril foram determinantes e são
complemento determinante do progresso que o País viveu. Aliás, a primeira vez que muitas mulheres tiveram