I SÉRIE — NÚMERO 62
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que estavam a correr entre o Banco de Portugal e a justiça, sobre atividades que banqueiros tiveram no
passado próximo.
Quero dizer ao Sr. Deputado que, como Presidente do PSD, também tive oportunidade de me pronunciar
publicamente sobre essa matéria, e, como Chefe do Governo, que é uma qualidade diferente, não podendo
deixar de respeitar, como o Sr. Deputado disse, e bem, a separação de poderes, não posso deixar de o
acompanhar no objetivo de promover, junto da Assembleia da República, que é o órgão de soberania
adequado para poder fazer essa avaliação, todas as diligências que forem necessárias não apenas para
apurar responsabilidades e saber o que se passou mas também para poder atuar sobre as causas desses
fundamentos, se isso estiver no alcance legislativo.
Não creio que a Sr.ª Ministra da Justiça esteja distraída relativamente a essa matéria e, portanto, quero
dizer à Câmara que o Governo acompanhará o processo que vier a ser desencadeado, em termos
parlamentares, para poder cooperar no sentido de evitar que estas situações possam voltar a ocorrer ou que,
tendo ocorrido, não por razão de entorse legislativo mas por outro tipo de responsabilidades, a
autogovernação das próprias magistraturas saiba retirar daí as devidas consequências.
Julgo que isso é essencial para repor a confiança dos cidadãos na justiça.
Quanto ao enquadramento geral que o Sr. Deputado faz relativamente aos trabalhadores, suscita o Sr.
Deputado a questão da ADSE. Aliás, no resto, creio que não trouxe nenhuma novidade. Todas as medidas
que aqui enumerou foram medidas que este Governo, com os partidos que o suportam, a maioria, aqui, no
Parlamento, corajosamente, tem vindo a adotar no sentido de cumprir os objetivos de redução do nosso défice
público.
O Sr. Deputado diz que passei pela vergonha de ter de encarar um veto político do Sr. Presidente da
República. Sr. Deputado, não é vergonha nenhuma! O Sr. Presidente da República, no uso dos seus direitos
constitucionais, pode entender promulgar ou não promulgar e devolver ao Governo os decretos, como pode
devolver ao Parlamento as leis. Cabe ao Governo, também nos termos dos seus poderes constitucionais,
procurar ultrapassar esses designados vetos, nomeadamente através da forma que o Governo utilizou,
convertendo o diploma numa proposta de lei e enviá-la para o Parlamento, para que o Parlamento a possa
discutir e, eventualmente, aprovar.
Quero dizer-lhe, Sr. Deputado, que, como publicamente já expliquei, o Governo mantém a importância da
medida que tomou. E, nessa razão, embora respeitando aquilo que é uso constitucional do Sr. Presidente da
República, não quero deixar de reiterar a relevância deste diploma, que tem um enquadramento simples: o
Estado comprometeu-se a garantir, até 2016, o autofinanciamento da ADSE; antecipámos esse
autofinanciamento na sequência de uma decisão do Tribunal Constitucional relativamente às pensões públicas
que deveriam ter convergido para a regra da segurança social.
Nessa altura, o Governo tomou duas medidas: uma foi esta, a de antecipar a elevação, para 3,5%, das
contribuições dos beneficiários da ADSE, já no ano de 2014; a outra foi a de alargar o valor de rendimento da
contribuição de referência para a contribuição extraordinária de solidariedade, baixando-o dos 1350 € para os
1000 €. Isto, Sr. Deputado, como foi anunciado publicamente, corresponde à intenção do Governo de respeitar
aquilo que foi acordado, juntamente com a troica, em relação ao objetivo do défice para 2014.
Portanto, sim, Sr. Deputado, estas duas medidas visam a consolidação das contas públicas, mas visam
mais do que isso, designadamente a da ADSE visa a autossustentabilidade do sistema, que, no caso da SAD
(Serviços de Assistência na Doença) e da ADM (Assistência na Doença aos Militares das Forças Armadas)
será ainda deficitário ao longo deste ano. No caso da ADSE — é verdade! — está previsto um excedente em
2014, mas está previsto que esse excedente fique justamente afeto às despesas futuras da própria ADSE,
portanto, afeto ao conjunto dos beneficiários que, com as suas contribuições, pagam as coberturas deste
seguro de saúde que é a ADSE.
Vozes do PS: — Ah!…
O Sr. Primeiro-Ministro: — Portanto, Sr. Deputado, não posso acompanhá-lo quando diz que se trata de
uma provocação aos trabalhadores; trata-se, simplesmente, de dotar a própria ADSE de condições de
sustentabilidade de futuro, e creio que a Sr.ª Ministra das Finanças ainda ontem teve oportunidade de, na
Comissão de Orçamento e Finanças, justificar bem os motivos por que nos parece que essa