21 DE MARÇO DE 2014
27
Achamos que estes são temas prioritários que temos de debater na Assembleia da República.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para proferir a próxima intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Inês Teotónio Pereira.
A Sr.ª Inês Teotónio Pereira (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Começo por saudar os
peticionários pela sua iniciativa, pois o cinema Odéon é um símbolo da cidade de Lisboa e deve ser
reconhecido aos cidadãos que tiveram esta iniciativa o mérito de apelar às várias instâncias pela proteção
deste património.
No âmbito desta discussão, existem duas questões que devem ser respondidas.
A primeira questão é a de saber se o cinema Odéon deve ser ou não preservado. Não temos dúvidas de
que deve ser. De resto, é consensual a relevância deste cinema para a cidade de Lisboa, de tal modo que, em
2004, foi iniciado um procedimento para a classificação do edifício. Embora esse procedimento tenha sido,
entretanto, encerrado, dado ter tido parecer negativo por parte do Conselho Nacional de Cultura, nunca o seu
valor, enquanto património da cidade, foi questionado, nem o assunto foi esquecido, pelo contrário.
Hoje, no momento em que discutimos esta petição, o cinema Odéon já se encontra protegido por via da
classificação da Avenida da Liberdade, como já aqui foi dito, como conjunto de interesse público. É uma
proteção que, na prática, implica a manutenção da fachada e do exterior do edifício. E vale a pena recordar
que foi uma iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura que pôs fim a uma indefinição que durava há vários
anos.
Este facto leva-nos a uma segunda questão: saber se a classificação da Avenida da Liberdade, que
salvaguarda o exterior do edifício, é suficiente para a proteção do cinema. Os peticionários e alguns grupos
parlamentares acham que não. Em boa verdade, a resposta não é de todo simples. O cinema Odéon
encontra-se fechado há mais de duas décadas e o seu interior está hoje profundamente degradado,
inviabilizando, assim, a sua recuperação.
De resto, sabemos que existiu um projeto que previa grandes alterações ao interior do edifício, mas
também sabemos que o pedido de informação prévio associado a esse projeto já não está em vigor, tendo
passado o prazo de validade de um ano. Ou seja, neste momento, o futuro deste cinema mantém-se incerto, o
que também significa que as entidades competentes ainda estão muito a tempo de agir. Tudo isto se arrasta
há muito tempo, o que é demonstrativo da complexidade desta situação, tendo em conta que o edifício não é
público, não pertence ao Estado, nem pertence à Câmara Municipal de Lisboa.
Neste sentido, acreditamos que a classificação do edifício, como é pedido pelos peticionários, não é a
resposta adequada. Se, por um lado, já está classificado por via da Avenida da Liberdade, por outro, não nos
dá garantias de que o Odéon fosse devolvido à sociedade, pois continuaria privado e a classificação não
assegura que os seus proprietários fossem refazer o Odéon tal como Lisboa o conheceu.
Vozes do CDS-PP: —Muito bem!
A Sr.ª Inês Teotónio Pereira (CDS-PP): — Defendemos, portanto, que as entidades responsáveis por este
processo, nomeadamente a Câmara Municipal de Lisboa, possam trabalhar de modo a garantir que, seja qual
for o projeto de recuperação do edifício a realizar, a futura utilização do cinema preste uma homenagem ao
seu passado. Ou seja, defendemos que, na medida do possível, o Odéon se possa manter como um espaço
onde a cultura acontece e onde se partilha, independentemente de ser essa a sua principal utilização.
Julgamos que essa seria, na verdade, a melhor solução para todos os envolvidos — lisboetas, o
proprietário e a Câmara Municipal — e que, em grande medida, responderia às preocupações dos
peticionários, que naturalmente compreendemos e acompanhamos.
Aplausos do CDS-PP.