I SÉRIE — NÚMERO 63
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O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Em primeiro lugar,
começo por saudar, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes», os milhares de
cidadãos que subscreveram a petição «Lisboa e o País precisam do cinema Odéon» e que, através deste
instrumento de afirmação da nossa democracia participativa, apelam a que se encontre uma solução para este
cinema, capaz de dignificar Lisboa, capaz de dignificar o País e também capaz de dignificar o nosso
património.
De facto, como referem os peticionários no texto desta petição, este é o cinema com mais história em
Lisboa, porque por ele passaram clássicos, quer do cinema mudo, quer do sonoro, mas passou mais, passou
muito mais: os grandes êxitos do cinema português, do cinema espanhol e ainda do teatro radiofónico.
Para além disso é ainda necessário ter presente a riqueza e a singularidade da sua arquitetura. Aliás,
considerando o seu interesse, este edifício esteve em vias de classificação como imóvel de interesse público,
mas o processo acabou por ser arquivado pelo IGESPAR e atualmente não é objeto de qualquer classificação,
mantendo-se apenas a frágil proteção pelo facto de estar inserido no perímetro de classificação do conjunto da
Avenida da Liberdade, classificada há pouco tempo de interesse público.
Apesar da sua importância cultural e patrimonial, o cinema Odéon continua fechado, continua à venda e
sem quaisquer obras de conservação, ainda que as suas galerias metálicas, as suas fachadas e a claraboia
do telhado reclamarem há muito por uma intervenção urgente para se poder preservar este importante
património.
Em 2011, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou uma informação prévia com vista a transformar este
cinema num centro comercial, o que implicava até a construção de um parque de estacionamento subterrâneo
para automóveis, o que, naturalmente, inviabilizaria definitivamente a sua futura utilização como cinema ou
teatro.
Essa não pode ser, pois, a solução. E se não for possível voltarmos a ter o Odéon como cinema e/ou teatro
pelo menos que lhe seja dado um destino mais virado para a cultura e menos para o comércio, um destino que
seja capaz de garantir as suas estruturas e os seus elementos singulares, bem como a sua riqueza
arquitetónica.
Resta dizer que Os Verdes acompanham as preocupações dos peticionários, dos seus propósitos e que
também, tal como eles, Os Verdes consideram que é necessário encontrar uma solução que dignifique a
cidade, o País e também o nosso património.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, e em nome do Grupo
Parlamentar do Partido Comunista Português, quero saudar os subscritores desta petição que agora
discutimos.
A sala de cinema em causa representa um conjunto arquitetónico único na cidade de Lisboa e no País e é
uma das salas de cinema de rua mais importantes da cidade, apesar de o ser pelo seu passado histórico e
não pela decadência que o passar dos anos lhe vem provocando pela ausência de resposta.
A política cultural aliada a uma política económica e social prosseguida ao longo das últimas décadas em
Portugal concorre e tem concorrido, objetivamente, para a concentração da propriedade e para a diminuição
da diversidade cultural.
A asfixia financeira, a especulação imobiliária e a concentração monopolista da atividade de distribuição e
projeção cinematográfica sacrificam essa diversidade.
Perante esta perda cultural por todo o País, sucessivos Governos com destaque para o atual, fecham os
olhos e negam-se a qualquer intervenção. Várias salas de cinema de rua encerraram em Lisboa, algumas
delas estão ao abandono, como é o caso dos cinemas Londres, Odéon e Europa, e outras tantas encerraram
há pouco tempo, fruto da política de sufoco económico e da ditadura da monocultura da grande distribuição
que o Governo não só não combate como estimula.