I SÉRIE — NÚMERO 67
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Protestos do PCP.
Mas, dizia eu, fala-se aqui muito em reivindicação, em bater o pé na Europa, em defender os interesses de
Portugal na Europa. Pois bem, no mundo dos adultos e no mundo real, bater o pé não é gritar mais alto, não é
ser mais estridente, é ter duas coisas que são fundamentais: credibilidade e independência.
O Sr. João Oliveira (PCP): — A vossa credibilidade é irrevogável!…
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Lembrava que, hoje, pela primeira vez em quatro anos, os nossos
juros a 10 anos estão abaixo dos 4%. A isto chama-se «credibilidade».
O Sr. João Oliveira (PCP): — Irrevogável!…
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — E, simultaneamente, já temos há alguns meses um caminho de
consolidação orçamental e um caminho de crescimento económico. A isso chama-se «independência».
E não deixa de ser extraordinário que os partidos que mais falam contra os mercados — e, por vezes,
reconheço que com alguma razão — sejam precisamente os partidos que mais se querem endividar e mais
querem depender desses mesmos mercados.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Se nós queremos ser independentes, então, vamos sê-lo mesmo!
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — A próxima pergunta é de Os Verdes.
Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Vice-Primeiro-Ministro, ouvi-o com atenção,
fui ouvindo, ouvindo… E ouvi-o falar de exportações, ouvi-o falar de sucessos, ouvi-o falar de indicadores de
confiança, enfim, o costume.
Mas, tendo presente o tema desta interpelação, era suposto ouvir mais do Governo, muito mais. Era
suposto ouvir o Sr. Vice-Primeiro-Ministro falar-nos, por exemplo: dos números do desemprego e da sua
evolução, desde a entrada da troica em Portugal até hoje; dos números da pobreza e da exclusão social; do
valor das pensões de há três anos e do valor das pensões que hoje os reformados recebem; da bandeira do
CDS, que passaria a ter uma «linha vermelha» que não seria ultrapassada; do valor dos salários de há três
anos e do valor de hoje; da carga fiscal antes e depois da tomada de posse deste Governo; da qualidade dos
serviços públicos; dos desempregados que, antes da chegada da troica, tinham direito ao subsídio de
desemprego, que, entretanto, o Governo tratou de reduzir drasticamente; do abono de família que o Governo
retirou a 650 000 crianças e jovens; dos 200 000 beneficiários que ficaram sem o rendimento social de
inserção; e até da dívida pública que, em 2011, estava em 94% do PIB, mas que este Governo «engordou»
para 130% do PIB.
Mas, sobre estas matérias, nada! Nem um comentário, nem uma palavra, nada!
Mas descanse, Sr. Vice-Primeiro-Ministro, nós sabemos porquê! Nós sabemos por que é que o Governo
foge destes assuntos «como o diabo da cruz». E também pode estar descansado que não vou perguntar-lhe
nada sobre o tal guião da reforma do Estado, até porque certamente pouco ou nada teria a acrescentar ao que
já disse sobre este assunto.
Também não lhe vou perguntar qual a tese que partilha relativamente aos futuros eventuais cortes: se da
tese do Sr. Primeiro-Ministro e da Sr.ª Ministra das Finanças, que dizem que o anúncio dos cortes será feito
mais lá para a frente, quando o seu relógio já estiver mais perto do fim; ou se da tese do líder parlamentar do
PSD, que diz que não vai haver mais cortes nos salários e nas pensões.