I SÉRIE — NÚMERO 69
32
Hoje sabemos mais do que isso; sabemos que não basta garantir direitos materiais. Para o crescimento
económico e para o desenvolvimento ser, de facto, consistente e verdadeiro é preciso garantir o acesso a
cultura, é preciso garantir o acesso a muitos outros bens imateriais que não passam unicamente pelo
crescimento, mas têm outras dimensões.
As políticas de austeridade e a crise vieram pôr em causa esta noção de desenvolvimento sustentável e o
que ele deve ser. Sim, é verdade que ele entra nos nossos discursos. Seja ele qual for, faz parte do domínio
comum e da política comum de hoje em dia. Mas também é verdade que nas políticas de austeridade e em
tudo aquilo que se faz em nome da crise, aquele momento em que os princípios financeiros se sobrepõem a
todos os outros princípios que fazem parte do conceito de desenvolvimento sustentável, a redistribuição da
riqueza deixa de ser tão importante quando o princípio financeiro prevalece, a proteção do ambiente deixa de
ser tão importante quando é o princípio financeiro que prevalece, o desenvolvimento de todas as áreas
imateriais da sociedade deixa de ser tão importante porque o princípio financeiro prevalece. Todos esses
conceitos são contra a própria ideia de desenvolvimento sustentável.
É importante continuar a pensar o desenvolvimento e a partilhar esse conhecimento e essa discussão na
sociedade, o que só pode fazer-se com acesso livre a informação. Por isso, é que é importante o projeto que
Os Verdes apresentam e que nós acompanharemos. Trata-se de aceder a informação necessária para fazer
este debate, que continua a ser um debate relevante nos dias de hoje.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Ainda para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Adriano
Rafael Moreira.
O Sr. Adriano Rafael Moreira (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia,
como V. Ex.ª disse, este é um projeto que se pode apresentar em poucas palavras, o que não lhe retira o
mérito. É um projeto muito meritório, estando em causa o direito à informação, que permitiu que fossem
citados aqui grandes filósofos gregos e que fossem feitas intervenções como a que acabámos de ouvir por
parte da Sr.ª Deputada Mariana Mortágua sobre o conceito de desenvolvimento sustentável.
Este assunto é, pois, uma boa oportunidade para terminarmos a sessão em grande e com um tema da
máxima importância.
Gostaria também de dar destaque negativo à intervenção do Partido Socialista, tentando capitalizar através
de uma iniciativa meritória, que não critica este Governo. É uma iniciativa que se dirige a todos os governos,
que, inclusive, como exemplo dos documentos que não são disponibilizados, fala dos documentos da
Convenção sobre Diversidade Biológica (Rio-92). Portanto, o PS não faz pelo menos um mea culpa, como se
não tivesse passado pelo governo desde 1992!
A iniciativa do Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes» vai, pois, colher o nosso apoio. O que
está e causa é o direito à informação, que é devido por este governo, pelos próximos governos e pelos que já
governaram e que não o cumpriram.
Há também uma questão, que não foi aqui abordada, para a qual se chama atenção no projeto: tem a ver
com o facto de Portugal fazer parte de muitas organizações internacionais, que deviam, elas próprias, cumprir
a obrigação de disponibilizar os documentos na língua oficial dos países que nela participam.
Sem dúvida que quando hoje todos invocam o português como uma das línguas mais faladas no mundo,
tendo decorrido décadas sobre essas convenções, as próprias entidades que organizaram, neste caso as
Nações Unidas, não tiveram o cuidado de disponibilizar os documentos em português. Trata-se de uma crítica
que não queríamos deixar de fazer.
Quanto ao projeto de resolução, e aproveitando a oportunidade, gostaria de dizer que subscrevemos na
íntegra a intervenção da Sr.ª Deputada Mariana Mortágua na parte em que contextualiza o desenvolvimento
sustentável. Ainda que não seja esse o objeto deste projeto de resolução, o diploma peca por omitir a
componente económica do desenvolvimento sustentável.
A Sr. ª Deputada Mariana Mortágua teve o cuidado de chamar a atenção precisamente para essa
componente. É assim que devemos ver o desenvolvimento sustentável, com a sua componente ambiental e
social. Mas assim como os recursos ambientais são escassos e exigem que o desenvolvimento tenha em