I SÉRIE — NÚMERO 72
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urgências, como temos assistido. E esta questão da sobrecarga das urgências tem, ela própria, duas grandes
consequências. A primeira, são as horas de espera para os utentes e as consequências na sua saúde que
essas mesmas horas de espera podem ter; a outra consequência é a degradação das condições de trabalho
para os profissionais.
A Sr.ª Deputada iniciou a sua intervenção fazendo uma saudação aos enfermeiros e às enfermeiras que
hoje estão em luta, saudação que também acompanho. E é exatamente sobre esta classe profissional que lhe
quero colocar uma questão.
Gostaria que a Sr.ª Deputada comentasse o paradoxo que se vive na nossa sociedade e que se vive no
Serviço Nacional de Saúde que tem, pelo menos, a falta de 25 000 enfermeiros e enfermeiras — é dito pela
Ordem dos Enfermeiros. No entanto, temos grandes níveis de emigração destes profissionais, temos estes
profissionais a trabalhar em condições altamente precárias, muitos deles contratados à hora, para já não falar
daqueles que estão sujeitos a horários de trabalho perfeitamente abusivos.
Como é que vamos resolver esta situação de termos, por um lado, enfermeiros no desemprego e a emigrar
e, por outro, um Serviço Nacional de Saúde cada vez mais carente de enfermeiros?
O Bloco de Esquerda apresentou, ainda esta semana, nas suas jornadas parlamentares, uma proposta de
resolução no sentido de o Governo abrir um concurso para enfermeiros e enfermeiras no Serviço Nacional de
Saúde.
Gostava também de saber, Sr.ª Deputada, se nos acompanha nesta nossa proposta.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — A Sr.ª Deputada Carla Cruz optou por responder individualmente aos
pedidos de esclarecimento.
Tem a palavra, para responder.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Helena Pinto, quero agradecer a questão que
colocou e dizer-lhe que o Serviço Nacional de Saúde vive dias muito difíceis. Vive dias muito difíceis por opção
política do Governo — e essa opção política do Governo é de desvalorização dos profissionais, é de não
cumprimento das dotações seguras.
A esse propósito, tivemos oportunidade de confrontar, quer na interpelação que fizemos em março, quer
em sede de Comissão de Saúde, o Sr. Ministro e o Sr. Secretário de Estado sobre o cumprimento das
dotações seguras, até relativamente aos enfermeiros, e aquilo que obtivemos foi uma ausência de resposta.
Ora, esta ausência de resposta é reveladora daquilo que é a opção política do Governo, que é não dotar o
Serviço Nacional de Saúde dos enfermeiros necessários para prestar cuidados de saúde com qualidade.
Relativamente à questão da dotação segura, permita-me, Sr.ª Deputada, que relembre a este Parlamento
uma situação com que confrontámos o Governo e que tem a ver com o ocorrido num serviço de urgência de
um hospital do Norte, em que para um serviço de observação de doentes urgentes, com pulseira laranja, onde
estavam internados 31 doentes, apenas foram escalados dois enfermeiros. Um dos enfermeiros alertou a
chefia para as causas da não prestação de cuidados, porque os doentes eram de elevada dependência e
necessitavam de cuidados muito acentuados, e a resposta foi «a escala é para cumprir, a escala é para
seguir».
O Sr. João Oliveira (PCP): — Que vergonha!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — E o que é que aconteceu aos doentes? Os doentes ficaram sem cuidados, que
são essenciais: não foi vigiada a dor, não foi vigiado o estado de consciência, não foram prestados cuidados
de higiene, não lhes foi administrada a medicação. E porquê? Por opção política do Governo, porque o
Governo não cumpre as dotações seguras, porque o Governo dá orientações para que não sejam contratados
enfermeiros. E a opção é mandá-los para fora, porque todos os dias saem do País enfermeiros que fazem
falta.
O Sr. David Costa (PCP): — É uma vergonha!