I SÉRIE — NÚMERO 74
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Terceiro, mas não menos importante, muito pelo contrário, o Banco Central Europeu parece, finalmente,
poder vir a ter uma política monetária mais ativa e próxima da que tem sido prosseguida pela Reserva Federal
Americana, incluindo a utilização de instrumentos de estímulo não convencionais, como a compra de dívida
pública e privada, o chamado quantitative easing. O objetivo é combater os riscos de uma inflação demasiado
baixa, que poderia tornar-se perigosa para a saúde da economia. Ora, isto é de saudar porque irá, sem
dúvida, beneficiar a zona euro e, nessa medida, também beneficiará Portugal.
Tal como o nosso País precisa da ajuda da Europa, também devemos perceber que a Europa precisa de
Portugal, porque precisa de um ajustamento num país do sul da Europa que possa ser concluído dentro do
tempo previsto e que não tenha recaídas. Ora, por exclusão de partes, esse país só pode ser o nosso.
Portanto, também podemos beneficiar deste facto, nomeadamente em termos de condições mais realistas,
para percorrermos o caminho que sabemos que temos de percorrer.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, tivemos mesmo, em Portugal, de mudar de vida e o tempo de antes do
resgate não voltará, como, aliás, é o maior partido da oposição, o Partido Socialista, que o reconhece, e ainda
bem.
Não nos devíamos nunca esquecer de que estamos a fazer, com atraso e por pressão dos credores, as
mudanças que não soubemos fazer por nossa iniciativa, nem quando aderimos ao euro, nem nos anos que se
seguiram. Trata-se de algo que não devemos deixar que volte a acontecer para que não tenhamos de ser
novamente intervencionados. Afinal, quando celebramos os 40 anos da Revolução de Abril, devemos recordar
que somos o único país da Europa que teve três resgates durante esse período de tempo. São experiências
que, certamente, não queremos repetir.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, muito já foi feito nos últimos três anos, muito continua por fazer — é certo!
—, e não é com propostas que iriam deitar tudo a perder, como a reestruturação ou o cancelamento da dívida,
que hoje, mais uma vez, debatemos, que construiremos um futuro melhor. Não! É percebendo a realidade, o
mundo em que vivemos, as tendências europeias e mundiais e a melhor forma de a elas nos adaptarmos ou
de as anteciparmos que melhor podemos percorrer o caminho que temos pela frente e ir ultrapassando os
obstáculos que, sem dúvida, nos irão aparecer.
Srs. Deputados, a realidade é a que é, não aquilo que gostaríamos que fosse, o que — vale a pena tornar a
referir — não invalida que não possamos lutar para ter melhores condições para a tarefa que temos de
executar.
Somando tudo isto, a verdade é que, apesar das dificuldades que, inevitavelmente, continuaremos a
enfrentar, creio que hoje podemos dizer aos portugueses que há boas razões para termos confiança no futuro.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Ferro Rodrigues.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Miguel Frasquilho, a Mesa registou quatro pedidos de esclarecimento,
das Sr.as
Deputadas Mariana Mortágua, do BE, e Hortense Martins, do PS, e dos Srs. Deputados Miguel
Tiago, do PCP, e José Luís Ferreira, de Os Verdes.
Entretanto, o Sr. Deputado informou a Mesa que pretende responder a conjuntos de duas perguntas.
Tem a palavra, em primeiro lugar, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Frasquilho, ontem, o Primeiro-
Ministro deu uma longa entrevista, de mais de uma hora, sobre como tudo corre bem no País. Disse que tudo
está a correr bem no País, que não há problema nenhum e que a economia está em ascensão — o melhor
dos mundos!
O Sr. Primeiro-Ministro esteve mais de uma hora sem falar do que as pessoas precisavam de saber — o
futuro dos seus salários e das suas pensões — e sem tocar naquilo que era necessário tocar, sobretudo sem