I SÉRIE — NÚMERO 74
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Aquilo que nos parece é que esta insistência na teimosia de recusar a renegociação significa mais
sacríficos, mais desemprego, mais cortes, menos serviços públicos, menos economia, mais pobreza, mais
exclusão social e, sobretudo, significa não pagar a dívida.
Então, a pergunta que lhe faço, Sr. Deputado, é muito simples: como é que se paga esta dívida que,
apesar dos sacríficos, não para de crescer? É que, desde a assinatura do Memorando de Entendimento até
hoje, a dívida já aumentou 52 000 milhões de euros. Diga-nos, Sr. Deputado, como é que se paga esta dívida.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Hortense Martins.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Frasquilho, de facto, desde 2010 até
hoje, o número a fixar é 52 000 milhões de euros de aumento da dívida. Isto é um facto, Sr. Deputado.
A maioria não concorda com o haircut da dívida e o PS também não, porque sempre defendeu o
cumprimento dos nossos compromissos, o cumprimento da dívida. Mas, como sabemos, o Governo já fez o
haircut dos salários e das pensões e ainda ontem, Sr. Deputado Miguel Frasquilho, o Primeiro-Ministro
anunciou que, afinal, o provisório está a ser estudado para passar a definitivo. O contrato social com os
portugueses rompe-se, a confiança quebra-se e isso o Sr. Deputado só pode achar que está errado, não
considerará que está certo, com certeza. É que, Sr. Deputado, a confiança, sabemo-lo, é o pilar da democracia
e é de confiança que é feita a democracia.
Depois, Sr.as
e Srs. Deputados, a atual política económica que o Governo insiste em prosseguir está a
basear-se no agravamento das condições de pagamento para o futuro da dívida pública. Será que é através
da delapidação do stock de capital físico e humano e do apelo à emigração que conseguiremos pagar a nossa
dívida?
Repare-se que o investimento caiu 30% em três anos, a emigração de jovens portugueses não para de
aumentar e ultrapassa já os 250 000, e sabemos que é neste capital humano que tem de residir o crescimento
e o apoio ao desenvolvimento do nosso País, pois sem esse crescimento a dívida não é sustentável, Sr.
Deputado.
Lembro, Sr.as
e Srs. Deputados, que este Governo já obteve a renegociação de juros e maturidades dos
empréstimos do programa de ajustamento e seria sério que o assumissem. Seria sério, Sr. Deputado! Mas, de
facto, também sabemos que essa renegociação, que o PS há muito pedia, foi feita sempre «à boleia» da
Grécia e da Irlanda.
O Governo português, infelizmente, não teve, na altura, como não tem agora, uma ideia para o
desenvolvimento do País, uma ideia que não passe pelo empobrecimento do País. Aliás, os juros da Grécia
estão hoje abaixo dos 5%, mas, como se sabe, isso não tem nada a ver com a economia da Grécia, porque a
dívida pública grega ultrapassa os 170% do PIB. Portanto, isso nada tem a ver com essas condições.
Essa renegociação foi aproveitada para legitimar a estratégia de austeridade do Governo de ir para além
da troica e não para alterar a política, sendo que o PS sempre defendeu que a renegociação dos prazos, dos
juros e das maturidades deveria ter como objetivo a alteração da política económica que tão maus resultados
deu. Veja-se a questão do PIB: temos níveis de PIB abaixo do nosso PIB de há 10 anos e os níveis de
desemprego subiram.
Sabemos que estas decisões passam por uma negociação em termos europeus e o PS sempre contestou
a inércia, a falta de ambição do Governo e a estratégia do empobrecimento e da destruição criativa.
Por isso, Sr. Deputado, pergunto-lhe: onde é que está a transformação estrutural da economia quando
sabemos que mesmo o Banco de Portugal e o FMI, nos dados que têm apresentado, demonstram que esse
ténue crescimento apenas assenta na procura interna? Onde está essa transformação estrutural, que não
vemos em nenhum lado? Preocupa-nos esta situação, que continua, de grande empobrecimento e de
insistência no corte de salários e de pensões, que ainda ontem foi reafirmada.
Aplausos do PS.