17 DE ABRIL DE 2014
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Ao mesmo tempo, também é fundamental prosseguir a transformação estrutural da economia, que, sem
podermos dispor de política monetária e cambial, nos permita ser competitivos à escala europeia e à escala
global.
Portanto, é preciso continuar o trabalho, que já foi iniciado e que está a dar frutos, em áreas tão diversas
como a qualificação dos recursos humanos, o mercado de trabalho, a justiça, a Administração Pública, a
mobilidade, a concorrência e a política fiscal. Deixem-me referir, a propósito da política fiscal, e como há
muitos anos venho defendendo, que aliviar fiscalmente a sociedade é prioritário para conseguirmos potenciar
o crescimento económico, mas não é menos verdade que isso está intimamente ligado aos progressos na
redução estrutural da despesa pública, o que é mais uma razão para tornarmos a despesa sustentável.
Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, creio que nem só de dificuldades o nosso futuro será feito. Felizmente,
as notícias económicas têm sido progressivamente mais positivas desde meados de 2013. A recuperação
chegou com um dinamismo que se pode considerar surpreendente pela positiva e os indicadores avançados e
de confiança de diversas instituições credíveis, como o Banco de Portugal, a Comissão Europeia, o INE, a
OCDE, não deixam antever qualquer inversão desta tendência, pelo contrário. Portanto, Srs. Deputados,
espiral recessiva nem vê-la. Felizmente para todos!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A beneficiar deste enquadramento está também o desemprego, que, apesar de continuar inaceitavelmente
alto — deve, por isso, continuar a ser combatido —, não subiu até onde chegou a ser projetado e até já desce
há quase um ano.
As contas públicas também beneficiaram: o défice de 2013 ficou abaixo do limite fixado pela troica, o que
foi uma novidade positiva e irá facilitar a execução orçamental para 2014, fazendo com que — quem sabe? —
o mesmo efeito de 2013 possa ser atingido no corrente ano, o que facilitaria o caminho orçamental que temos
de percorrer no futuro.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, deixem-me recordar que até meados de 2013 todos sabemos que foram
as exportações que atenuaram a recessão e permitiram que as consequências não tivessem sido ainda mais
duras do que aquelas que sentimos e conhecemos. Mas desde o ano passado que a procura interna
estabilizou e que começou mesmo a recuperar, o que depois de um ajustamento que foi mais forte e profundo
do que tinha sido previsto, é, naturalmente, positivo.
Também destaco, dentro da procura interna, o comportamento do investimento, que inverteu a tendência
de queda desde meados de 2013 e, o que é bastante relevante, com o peso do investimento em máquinas e
equipamento a aumentar e com o peso do investimento em construção a diminuir. Ou seja, a recuperação do
investimento está a assentar no investimento mais reprodutivo e criador de riqueza e menos no investimento
menos reprodutivo, o que só podem ser consideradas boas notícias.
Esta recuperação é muito, muito importante, porque só o investimento permitirá manter o saudável
dinamismo das exportações, que, pela primeira vez em 2013, atingiram mais de 40% do PIB, quer pelo seu
dinamismo, quer, evidentemente, pela recessão que enfrentámos. Mas, mesmo com esta evolução favorável,
as exportações portuguesas continuam ainda longe dos registos de países europeus que são normalmente
comparados com Portugal, como é o caso da Áustria, da Bélgica, da Dinamarca, da Eslováquia, da Holanda,
da Irlanda e da República Checa. Por isso, é fundamental continuar a melhorar as condições que permitam
que investimento e exportações possam ser ainda mais dinâmicas do que os últimos dados conhecidos
sugerem, porque só com investimento poderemos criar mais e melhores empregos e combater eficaz e
duradouramente o desemprego e só com investimento será possível exportar cada vez mais e melhorar as
condições de vida da população. Numa pequena economia aberta, as naturais limitações do mercado interno
conferem às exportações um papel fundamental na criação anual de riqueza.
Mas creio ser igualmente possível admitir que as boas notícias vão chegar da Europa.
Primeiro, as experiências com a troica nos países que pediram assistência financeira devem ser
aproveitadas para tornar os necessários ajustamentos futuros mais realistas, e estou certo de que isso vai
acontecer.
Segundo, a união bancária está finalmente a avançar e irá evitar o envolvimento dos Estados em resgates
bancários, de que o exemplo paradigmático é o que sucedeu na Irlanda.