17 DE ABRIL DE 2014
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com satisfação que o PS fez um caminho no sentido de reconhecer que a dívida é insustentável. Há três anos,
num debate, a Sr.ª Deputada Hortense Martins dizia que a renegociação da dívida era um caminho perigoso,
que era perigoso afrontar os banqueiros, colocar Portugal na lista negra dos países em quem os banqueiros
não confiam.
Portanto, estamos satisfeitos por fazerem esse caminho, mas, Sr. Deputado, é preciso darem mais uns
passos!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Paulo Sá, estava a ouvi-lo com a maior
atenção e, perante a vossa a preocupação com a dívida pública, a primeira ideia que me assaltou o espírito foi
a de saber, ao longo destes 40 anos, o que é o PCP defendeu em termos de despesa do Estado, de despesa
pública.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — É que os senhores votaram contra muitos orçamentos, mas
defendendo sempre mais despesa pública e, como tal, mais dívida pública!
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
Reconhecendo, obviamente, a coerência do PCP — de resto, a coerência do PCP é algo que penso que
todas as bancadas e todos os analistas reconhecem, ainda que a mim me pareça que, mesmo sendo
coerente, a persistência num erro não é forçosamente um mérito —, passo a colocar, de forma serena,
algumas questões que me parecem importantes, pedindo-lhe, Sr. Deputado Paulo Sá, que dê uma resposta
concreta às mesmas.
Penso — estou no meu direito — que os senhores falharam, que têm falhado muito, têm falhado várias
vezes. São coerentes, mas falham. Na minha opinião, falharam quando não aceitaram sequer falar com a
troica num momento em que o País tinha sido conduzido a uma situação em que estávamos a dias de não
haver dinheiro para pagar salários ou pensões.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Bem lembrado!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Falharam, de novo, quando disseram, nesta Câmara e no País, que o
segundo resgate era inevitável, que não havia outra hipótese, que o caminho de Portugal era forçosamente o
caminho da Grécia. Falharam, enganaram-se! Felizmente, não foi esse o nosso caminho e, como dissemos,
estamos muito mais perto da realidade irlandesa do que da realidade da Grécia.
Falharam quando todos os dias prognosticavam a espiral de crise, de não crescimento económico, da
economia a definhar sem parar, o que também não aconteceu.
Portanto, os senhores têm falhado muitas e muitas vezes. Perguntamos, pois: por que é que hoje tomam
esta iniciativa? É que, na minha opinião, voltam a falhar. A pergunta óbvia é: porquê hoje? Porquê agora?
Hoje, dia 16 de abril, os nossos juros estão nos 3,78%. Hoje, o nosso spread, ou seja, o risco da dívida
pública portuguesa, quando comparado com a dívida pública alemã, está nos 2,2%. Chegou a estar em 12%,
perto dos 13%, no início do Programa, mas neste momento está nos 2%. Portanto, porquê agora esta vossa
iniciativa, quando estamos a um mês de sair do Programa e de cumprir os nossos objetivos? Não faz sentido!
Só faz sentido por uma razão, que é óbvia: é a vossa coerência ideológica.
Basta percorrer dois ou três corredores desta Assembleia e ver os cartazes que estão expostos para
perceber que os senhores sempre foram contra a NATO, contra a Europa, o que explicará a posição que
trazem hoje. É uma questão ideológica.