I SÉRIE — NÚMERO 80
64
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Portugal está a terminar o nosso
programa de ajustamento, um programa difícil que exigiu muitos sacrifícios aos portugueses, na sequência da
situação de falência financeira em que o País se encontrou em 2011.
A realidade é que o sucesso deste programa de ajustamento deveu-se a muitos sacrifícios, pedidos a
tantos e tantos portugueses — a funcionários públicos, a pensionistas, a empresas —, mas estamos a chegar
ao fim. A 12.ª avaliação é uma avaliação positiva e isso deve ser motivo de orgulho para todos os cidadãos
nacionais.
Vamos retomar, assim, a nossa soberania financeira. Mas esta retoma da nossa soberania financeira, que
é algo de importante para todo o País, necessita de ser acompanhada por medidas que garantam a
manutenção da confiança em Portugal. A confiança nas instituições portuguesas, a confiança em que Portugal
não volta atrás naquele caminho de rigor que veio a prosseguir, em que a credibilização do País não é posta
em causa, em que os nossos parceiros europeus, os nossos credores, os mercados continuarão a apoiar a
economia portuguesa, continuarão a apoiar o Estado português nas necessidades de financiamento.
A União Europeia percebeu que o problema que aconteceu, não só em Portugal como noutros países, não
era só um problema interno mas também um problema que exigia que as instituições europeias tivessem
mecanismos de maior apoio àqueles países com problemas.
Por isso, o tratado orçamental surgiu e institui regras que o País — Portugal, não o Governo — decidiu
cumprir e respeitar, com um consenso alargado, mostrando o sentido de responsabilidade dos agentes
políticos, da maioria mas também do Partido Socialista. Regras segundo as quais o País mantém um rumo
para que, num horizonte temporal de médio prazo, o défice público possa atingir 0,5% do PIB, sendo
fundamental o reforço dos poderes e a transparência, nomeadamente através do Conselho de Finanças
Públicas, para que entidades independentes possam assegurar quer a trajetória quer desvios que possam vir
a ocorrer.
Ajustamentos podem ser sempre necessários, não há leis perfeitas, e é mais um ajustamento aquilo que
estamos aqui a fazer. Só isso, não mais do que isso. Por isso, temos a convicção de que esta é uma iniciativa
pacífica e que merecerá o consenso das forças políticas que aceitaram a transposição do tratado orçamental
para a legislação nacional. É que o tratado já nos vinculava e, por isso mesmo, não estamos a fazer mais do
que transmitir confiança, num momento especial da nossa vida pública, a todos aqueles que continuarão a
apoiar Portugal no nosso rumo à credibilização, ao acesso aos mercados, ao financiamento de que o País vai
continuar a necessitar.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Entretanto, reassumiu a presidência o Vice-Presidente Guilherme Silva.
O Sr. Presidente: — Para apresentar o projeto de lei do Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A questão de fundo que hoje
debatemos é esta: para quem é que se governa? O que é que a democracia coloca em primeiro lugar? Os
interesses do povo, democráticos — serviços públicos, saúde, educação —, aquilo que a própria democracia
decidir e entender fazer no futuro, ou os interesses dos mercados financeiros? É que é esta a escolha que
está em cima da mesa quando debatemos a introdução das regras do tratado orçamental na nossa lei de
enquadramento. É subjugar toda a nossa política orçamental — toda a política que permite construir o Estado
social, que permite cumprir a democracia — a uma única regra: a regra do défice, a regra e a garantia aos
mercados financeiros de que a dívida será sempre paga a tempo e horas, independentemente de ser
especulativa ou não e independentemente daquilo que for preciso cortar de direitos, de salários, de pensões
às pessoas que vivem neste País.
E não vale a pena confundir a regra de ouro ou a regra do défice zero, que está inscrita no tratado
orçamental, com finanças saudáveis, porque as finanças saudáveis são o resultado de uma economia
saudável, finanças saudáveis são finanças que servem o País e não o contrário.