I SÉRIE — NÚMERO 82
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Não podemos é concordar que o aumento das pensões mínimas seja feito à custa do complemento
solidário para idosos, que provou ser a medida mais eficaz de combate à pobreza em Portugal.
Aplausos do PS.
Quanto ao segundo resgate…
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Termino, Sr. Presidente, dizendo o seguinte: quanto ao segundo
resgate, no Memorando inicial, não estava previsto nenhum segundo resgate. Quem, em primeiro lugar,
acenou com o medo do segundo resgate — não sei se se recorda!? — foi o seu líder do partido e Primeiro-
Ministro em plena campanha autárquica. Foram os senhores os primeiros a acenar a acenar com esse medo!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana
Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: Há 827 000 pessoas
oficialmente desempregadas em Portugal. Algumas têm mais de 45 anos. São velhas demais para trabalhar
mas novas demais para a reforma; outras são demasiado jovens, demasiado inexperientes, demasiado
qualificadas. Algumas só conheceram o desemprego. Têm menos de 34 anos e são 362 000: 2 em cada 10.
Abaixo dos 24 anos são quase 4 em cada 10.
Mas há mais: há aquelas que já nem entram para as estatísticas, as que desistiram do País porque o País
desistiu delas ou as que trabalham a tempo parcial mas declaram precisar trabalhar mais por não receberem o
suficiente.
Vamos contar cada uma destas pessoas, dar-lhes a visibilidade que merecem e o País ficará a parecer-se
mais com aquilo que realmente é: 1,4 milhões de pessoas não têm emprego ou o emprego que têm não lhes
dá para viver.
Mas, mesmo se olharmos para os números oficiais, são 445 000 pessoas desempregadas que não têm
apoio na sua situação de desemprego. Estes números impressionam, mas não contam tudo. Passam por cima
das condições em que vive, ou sobrevive, uma fatia cada vez maior da população.
É o caso de Alice, nome fictício, que, tendo perdido o direito ao subsídio de desemprego e a quem a direita
tirou o RSI, trabalha todo o dia na lota da Nazaré. Trabalha, mas não recebe. Pagam-lhe em peixe. A crise é
isto. No século XXI, voltámos às práticas laborais do capitalismo selvagem do século XIX.
Sr.as
e Srs. Deputados, são os mais velhos aqueles que correm mais risco de ter o desemprego como
condição de vida até ao final da vida. Ao seu lado cresce uma geração de precários, que atinge sobretudo os
jovens, mas que se alastra a toda a sociedade.
Utilizaram a precariedade das gerações mais jovens para retirar direitos aos mais velhos e, com isso,
tornaram a precariedade regra para todos. Não há ponta de justiça geracional nisto porque não pode haver
justiça na generalização das injustiças.
O que há é uma geração de pais que não consegue assegurar a sua velhice ou ajudar os filhos. O que há é
uma geração de filhos, já adultos, que não se consegue emancipar dos pais, quanto mais pensar eles próprios
em ter filhos.
Sr.as
e Srs. Deputados, bem-vindos à geração dos «nem-nem». Na geração dos «nem-nem» há muito
quem trabalhe. Só que nunca o suficiente para ser trabalhador com direitos. Há também muito quem não
consiga trabalhar, mas nunca o suficiente para ser um desempregado com direitos. Nem estudante, nem
trabalhador, nem desempregado.
Os «nem-nem» existem, não são uma ficção. Têm nomes, têm caras, têm histórias.