I SÉRIE — NÚMERO 82
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O Sr. Pedro Roque (PSD): — Termino já, Sr.ª Presidente.
É também importante constatar que o Bloco de Esquerda não teve aqui uma palavra relativamente à
procura ativa de emprego neste seu projeto e isso é bastante elucidativo relativamente aos seus propósitos
neste debate.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Que tristeza!
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O debate de hoje foi da maior
importância e a votação que se vai seguir não será de menor importância.
Creio que vale a pena rebater alguns argumentos, pelo menos aqueles que tentaram ser sérios, deste
debate. Ainda há pouco, o PSD, na sua última intervenção, dizia que o Bloco de Esquerda não referiu, em
nenhum momento, os sacrifícios das pessoas. Ora, não sei onde é que o PSD esteve durante o debate,
porque é exatamente dos sacrifícios daqueles que pagaram com a perda do seu posto de trabalho e que não
têm qualquer apoio social, fruto da política de austeridade, que hoje estivemos a falar.
Segundo os números oficiais, são 445 000 pessoas. 445 000 homens e mulheres que estão
desempregados, que perderam o seu posto de trabalho e não têm qualquer apoio, e é a estes que a maioria
não conseguiu trazer qualquer solução.
É certo que o Governo teve, neste debate, a mesma resposta que lhes dá enquanto política: não apareceu,
virou as costas, faz de conta que eles não existem e espera que eles desapareçam brevemente — que
emigrem, que não façam parte das estatísticas e que não contem, porque não contam para a política do
Governo.
Por parte do Bloco de Esquerda, colocamos em cima da mesa os direitos dessas pessoas e as respostas
de hoje, que têm de ser dadas hoje porque amanhã já é tarde demais.
Falam-nos de eleitoralismo; nós respondemos com a urgência da vida daqueles que ficaram para trás na
política do Governo. Não há eleitoralismo, há é uma vida à qual o Governo roubou o trabalho, roubou o apoio
social e não dá uma única saída. Ora, esses não podem esperar para amanhã.
Numa tentativa de desmentir o Bloco de Esquerda, disseram também que, afinal, a saída que referimos
como uma saída à irlandesa, a realidade dos apoios sociais da Irlanda, não era verdadeira, mas a cada
tentativa de nos desmentir mais confirmavam aquilo que dizíamos. É verdade, na Irlanda há mais apoio social;
é verdade, na Irlanda há mais gente a receber apoio social e é verdade que na Irlanda o valor também é
maior, muito maior do que o do apoio social em Portugal.
Na Irlanda, ser desempregado merece mais atenção do que merece em Portugal, mas a saída à irlandesa,
que valeu tanto para os mercados, para quem tudo valia e a quem o Governo nunca quis faltar, afinal, não vale
quando se trata dos desempregados, e a saída irlandesa que aqui propomos, numa aproximação por baixo
daqueles que são os direitos irlandeses, reconhecemos, não merece a atenção da maioria.
É certo que sentimos as consciências pesadas, quer nas posições pessoais que foram aqui transmitidas,
quer até na tentativa do CDS de passar por este debate com «pezinhos de lã», mas essas consciências
pesadas não mudam a realidade difícil e dura da vida das pessoas.
Sr.as
e Srs. Deputados, daqui a minutos, todos seremos chamados a votar segundo a nossa consciência,
segundo a consciência daqueles que querem responder aos 445 000 desempregados que não têm qualquer
apoio social ou daqueles que, debaixo da capa partidária, debaixo da diretriz do partido ou do grupo
parlamentar, até debaixo de uma obediência cega ao Governo, quererão fechar a porta a estes que hoje
precisam de ajuda.
Nós não os deixamos ficar para trás. Quer a maioria, quer a oposição, hoje, aqui têm a capacidade de se
levantar por uma saída para aqueles que não podem esperar para amanhã quando hoje têm em cima da mesa
a solução.