I SÉRIE — NÚMERO 87
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Com todos os sinais de alarme que vêm de fora e de dentro, desta Europa e deste modelo de Governo de
tutela única alemã, afinal, vêm, Sr. Deputado — e penso que nos acompanhará — sinais muito preocupantes
de que a obediência deste Governo deu maus resultados. E falo de sinais que têm a ver com a abstenção,
com o ganho de espaço político dos partidos da extrema-direita, com esta perigosa herança de que, afinal e no
caso da França, a extrema-direita é herança direta desta Alemanha tão poderosa, ou seja, Marine Le Pen é,
afinal, a outra face da mesma moeda das políticas da Sr.ª Merkel.
Ora, tudo isto exige uma reflexão responsável. Mas há sinais de esperança, do nosso ponto de vista.
Olhamos com esperança para a experiência e para as vitórias em alguns países, nomeadamente
reconhecendo os avanços da esquerda, quer na Grécia quer em Espanha, e entendemos que essa
responsabilidade implica um olhar sério sobre o futuro do nosso País.
Ouvimos, há muito pouco tempo, o PSD perguntar ao PCP: «quais são as alternativas?». E ouvimos o CDS
falar na recuperação da confiança dos portugueses e dizer que «farão tudo para recuperar a confiança dos
portugueses».
A pergunta que lhe deixo, Sr. Deputado, é a seguinte: acha que há alguma possibilidade de recuperação
dessa confiança, quando ela foi traída sistematicamente e quando vivemos a situação de um País exaurido
pelas políticas de austeridade?
Continuamos a poder olhar para o lado e a não ligar ao rotundo fracasso do tratado orçamental, que é,
afinal, o texto sagrado destas políticas de austeridade? Ou é hora de reconhecer, claramente, que o tratado
fracassou, que não há mais condições para a continuidade desta austeridade obsessiva e que os resultados
das últimas eleições são claros no sentido de evidenciar que o povo exige uma alternativa à obsessão da
austeridade e aos seus custos sociais?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, queria agradecer o seu
pedido de esclarecimento e as palavras que dirigiu ao PCP e à CDU e quero também saudar o Bloco de
Esquerda pela presença que teve nesta campanha eleitoral, em que se debateu dignamente pelas propostas
que defende para Portugal e para a Europa.
A Sr.ª Deputada referiu aqui dois aspetos relativamente aos quais eu gostaria de tecer algumas
considerações, nomeadamente sobre a elevada taxa de abstenção.
Este é, de facto, um problema que deve ser analisado quer a nível nacional quer a nível europeu.
Verificámos que a maioria dos cidadãos europeus sente uma enorme distância relativamente às instituições
europeias, que se refletiu em Portugal e em outros países, com taxas de abstenção superiores a 80%, como
se verificou em alguns países.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. António Filipe (PCP): — Portanto, isto é elucidativo da distância a que as instituições europeias se
encontram dos cidadãos, o que não admira. O que não admira! Basta vermos como são tomadas as decisões
na União Europeia, basta vermos como são tomadas e executadas as decisões, independentemente da
vontade dos povos, para verificarmos que há razões para que os povos se sintam divorciados das instituições
europeias.
Mas há também, em Portugal — e isso é muito nítido —, um descontentamento que muitos cidadãos
expressam não indo votar, votando nulo ou votando em branco.
Isso é preocupante, mas não autoriza que se diga aquilo que o Sr. Deputado Filipe Lobo d’Ávila aqui há
pouco dizia, ou seja, que os cidadãos que não foram votar não estão contra a política do Governo… Um pouco
a ideia de «quem cala consente»!
Ora bem, Sr. Deputado, há uma coisa de que não temos dúvidas e falámos com muitos cidadãos nesta
campanha eleitoral e ouvimos muitos que entendiam a sua abstenção como um voto de protesto. E nós
dizíamos a esses cidadãos que a abstenção não é um voto de protesto; um voto de protesto é votar contra o