I SÉRIE — NÚMERO 87
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política de justiça, de solidariedade, de fraternidade e de igualdade, uma política correspondente àquilo que se
prevê na Constituição da República Portuguesa.
Julgamos nós que o reforço eleitoral da CDU aponta nesse sentido, aponta no sentido de abrir caminho a
uma situação diferente daquela que hoje nos é imposta pela execução da política de direita particularmente
protagonizada por este Governo.
Destas eleições resultou não só a condenação deste Governo e dos partidos que o sustentam mas também
a condenação da política de direita protagonizada hoje pelo PSD e pelo CDS, e anteriormente pelo Partido
Socialista.
O pior resultado de sempre desta coligação corresponde, também, ao pior resultado de sempre dos três
partidos que se têm alternado no governo em Portugal. Julgamos que esse resultado tem de ter uma
consequência e julgamos que essas consequências têm de ser, em primeiro lugar, a demissão do Governo, a
dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições antecipadas, porque esta maioria que
hoje está na Assembleia da República não tem correspondência com as opções políticas eleitorais dos
portugueses.
Julgamos que uma outra consequência que é preciso retirar destas eleições é a necessidade de uma
política alternativa e de um governo que a execute. É a necessidade de uma política diferente da política de
direita que tem afundado o País, que tem condenado o País ao retrocesso económico e social e a expressão
dessa exigência resulta também deste ato eleitoral.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Concluo, Sr.ª Presidente.
Portanto, a questão que gostaria de lhe colocar é se entende que a derrota sofrida pelos três partidos que
se têm alternado no governo, e que obtiveram a pior representatividade eleitoral de sempre, corresponde ou
não a essa exigência de uma política diferente daquela que nos últimos 37 anos tem sido executada em
Portugal?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente. — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Oliveira, agradeço-lhe as questões
que colocou e começo por lhe responder à questão inicial do ascenso da extrema-direita.
Assistimos confortavelmente aos partidos do poder e aos vários governos da Europa a aceitarem o
discurso de que havia uns povos preguiçosos, no sul, face a uns povos trabalhadores, no norte, quando, para
proteger a finança da crise que tinha criado, se fez a especulação sobre as dívidas soberanas dos países
periféricos do euro.
Este discurso tem vários níveis, mas o discurso do ódio entre povos, como o discurso do ódio entre
trabalhadores para esconder as verdadeiras responsabilidades do sistema financeiro e das direitas que têm
governado o País e a Europa, é, sem dúvida, responsável pelo ascenso da extrema-direita na Europa e, sim,
são culpados por um dos momentos mais perigosos que estamos a viver na Europa e que urge combater.
Respondendo à sua segunda pergunta, é também verdade que não só em Portugal mas um pouco por toda
a Europa se vê que o centro que tem governado a Europa, os partidos populares europeus — no caso de
Portugal, o PSD e o CDS — mas também a social-democracia europeia — no caso, em Portugal, o Partido
Socialista —, tiveram resultados mais baixos um pouco por todo lado. Um pouco por toda a Europa se percebe
que não são a solução e que a austeridade não é resposta a uma crise num continente que continua a ser um
dos mais ricos do mundo e onde a desigualdade grassa e o empobrecimento cresce.
A austeridade, venha ela em tons mais rosa ou em tons mais laranja, enquanto for a destruição da
economia, a destruição do emprego, para manter todo o privilégio da finança e todo o poder dos mercados
financeiros, não é nunca a solução e estas eleições também o demonstram.