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I SÉRIE — NÚMERO 87

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Encolher os ombros face à abstenção, encolher os ombros face ao descrédito e ao descontentamento será,

porventura, o caminho mais perigoso que poderíamos seguir e aquele a que não podemos, de forma alguma,

permitir-nos.

Sr.as

e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda, como sabem e como já dissemos, teve um mau resultado

nestas eleições europeias.

O nosso objetivo era eleger dois Eurodeputados e elegemos apenas uma Eurodeputada, Marisa Matias,

que fez uma campanha mobilizada e mobilizadora mas que não teve, no seu programa, a capacidade de

agregar as forças e os votos necessários para cumprir o seu objetivo.

O programa de candidatura do Bloco de Esquerda, continuamos a considerar, está certo e é importante,

mas reconhecemos que, não sendo capaz de mobilizar e agregar as forças, muito terá de ser feito na reflexão

sobre os caminhos da esquerda.

O Bloco de Esquerda apresentou-se a estas eleições com um programa de aliança das esquerdas na

Europa, com três pontos essenciais: a rejeição da austeridade enquanto política na Europa; a colocação do

pleno emprego no centro das políticas e a reestruturação das dívidas soberanas dos países da periferia do

euro.

Esta aliança entre as esquerdas na Europa teve bons resultados em alguns países. Este programa foi

capaz, em alguns países, de mobilizar em torno de um programa de esquerda e congratulamo-nos com esses

bons resultados, nomeadamente com o resultado do SYRIZA, na Grécia, com o resultado do Sinn Fein, com o

resultado da Esquerda Unida, com os resultados em vários Estados que mostraram que esta aliança de povos

contra uma Europa da finança é uma aliança que pode agregar e que deve agregar. Não foi assim em

Portugal. Teremos, naturalmente, de retirar conclusões nessa matéria.

Mas, Sr.as

e Srs. Deputados, não poderia deixar também de assinalar aqui a derrota da direita e a derrota

das políticas de austeridade.

PSD e CDS juntos tiveram menos de 30% dos votos. O PSD passa de oito para seis Eurodeputados e o

CDS passa de dois para um. Mais do que a derrota da direita, que devemos assinalar e que mostra como, em

Portugal, não tem já hoje credibilidade o Programa do Governo nem as políticas do Governo, é bom assinalar

que estes resultados mostram que a austeridade como ajustamento já não é aceite pelo País.

Tantos postos de trabalho destruídos, tamanha degradação dos serviços públicos, ataque ao Estado social,

ataque aos salários e às pensões, jovens gerações que sentem que não têm lugar no seu País nem na

Europa. Depois de toda esta destruição, com uma dívida pública que continua a crescer ao ritmo de 40

milhões de euros por dia, a austeridade como ajustamento não é aceitável e não é aceite, e estas eleições

disseram-nos também isto.

A austeridade é, sim, e é cada vez mais claro para a generalidade da população, o instrumento do privilégio

da finança pela sangria dos pobres. Reestruturaram-se pensões, reestruturaram-se salários, reestruturou-se a

escola pública e o Serviço Nacional de Saúde, reestruturaram-se setores inteiros da economia, para que tudo

ficasse na mesma com o setor financeiro e para que se continue a recusar a reestruturação da dívida pública.

O combate à austeridade exige, hoje, clareza e determinação. Vemos nos exemplos europeus dos partidos

que se diziam contra a austeridade e que não tiveram essa clareza e determinação no corte com as políticas

neoliberais e no corte com a ditadura do diretório da finança que tudo ficou na mesma, ou pior.

Veja-se em França, com o governo de François Hollande a impor medidas de austeridade e a assistirmos

ao crescimento da extrema-direita quando a política não responde à necessidade dos povos e a alternância

não traz qualquer alternativa.

Vemo-lo na Alemanha, com uma aliança/coligação de direita e sociais democratas no poder que não traz

qualquer novidade à Europa e, portanto, continua a destruir o Estado social, continua a destruir direitos dos

trabalhadores e continua, pois, a destruir a ideia da União Europeia.

Vemo-lo também na Grécia, em que partidos que queriam alguma mudança, mas nunca quiseram a

mudança toda, estiveram em governos que só aprofundaram mais a crise social, a crise humanitária, que vive

o povo grego.

Não temos dúvidas que é necessário, hoje, uma voz clara contra a austeridade, que é preciso toda a

determinação. Aceitar o tratado orçamental ou continuar a recusar a reestruturação da dívida pública significa

afundar o País.