29 DE MAIO DE 2014
19
Sabemos que, para cumprir o tratado orçamental, Portugal precisaria de cortar todos os anos em despesa
pública algo como 1,9% do PIB. É como cortar num ano metade da escola pública, no ano seguinte um terço
do Serviço Nacional de Saúde, depois mais metade da escola pública, até não restar pedra sobre pedra do
que constrói a democracia, dos instrumentos da dignidade e da igualdade no nosso País.
A rejeição do tratado orçamental, a reestruturação da dívida pública continuam a ser objetivos essenciais,
mas é preciso muito mais.
A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada, queira concluir.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Concluo, Sr.ª Presidente.
É preciso mobilizar para que haja uma alternativa, é preciso juntar forças, agregar forças, e a esquerda tem
de ter essa capacidade para que haja verdadeiramente uma alternativa às políticas neoliberais e às políticas
de destruição do nosso País, levadas a cabo por este Governo e por esta política europeia.
O Bloco de Esquerda, naturalmente, reflete sobre estes resultados e trilhará esse caminho de
determinação, de convicção e de necessidade de juntar forças. Refletimos sem nunca deixar de agir, aqui, na
Assembleia da República, como no Parlamento Europeu, como na Assembleia Legislativa dos Açores e nas
autarquias onde estamos representados, em todos os movimentos e causas em que somos ativistas.
Sabemos da nossa responsabilidade de combate ao neoliberalismo, de combate à austeridade e de estarmos
sempre do lado das vítimas desta política.
É aí que estará, como sempre, o Bloco de Esquerda.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, a propósito da análise
sobre as eleições para o Parlamento Europeu do passado domingo, a Sr.ª Deputada trouxe ao Plenário da
Assembleia da República esta matéria que é, de facto, preocupante, pois tem a ver com o perigo de
ressurgimento do fascismo e de partidos de extrema-direita…
Vozes do CDS-PP: — E de extrema-esquerda!
O Sr. João Oliveira (PCP): — … que, por toda a Europa, vão ganhando espaço e campo e essa é, de
facto, uma preocupação profunda e um perigo que devemos ter em atenção.
De nada serve ignorar essas preocupações agora e daqui por 50 anos estarmos novamente, na Europa, a
chorar os milhões de mortos que podem resultar desse tipo de projetos políticos baseados na ideologia do
ódio, da xenofobia, da exterminação e da segregação racial.
Aplausos do PCP.
Sr.ª Deputada, na nossa leitura, entendemos que esse perigo do ressurgimento do fascismo não está
desligado da projeção e do empolamento que tem sido dado a muitos dos partidos que protagonizam esse tipo
de ideias e de ideais para iludir as responsabilidades daqueles que todos os dias, com as políticas que
executam, vão atacando e degradando as condições de vida.
Quem hoje, por esta Europa fora, vai executando políticas contra os interesses dos povos, contra os
interesses dos trabalhadores, não pretende assumir as responsabilidades que decorrem dessa circunstância e
dessas políticas que executam.
A projeção e a promoção que são dadas a partidos de extrema-direita, partidos de cariz fascista e neonazi,
é muitas vezes o elemento que está mais à mão para iludir essas responsabilidades de quem está por toda
essa Europa a executar políticas antipopulares e antissociais.
Em Portugal, a realidade é outra; em Portugal, pelo contrário, a penalização e a responsabilização dos
partidos que estão no Governo corresponderam ao reforço de uma perspetiva que abre caminho a uma