29 DE MAIO DE 2014
17
que não se quer, porque uma abstenção é um não-voto. E o cidadão, quando se abstém, ao que vai dar azo é
que, depois, venham aqui intervenções, como a do Sr. Deputado Filipe Lobo d’Ávila, a dizer que se não
votaram, não votaram e «quem cala consente»! Isto quando sabemos e temos consciência de que se muitos
dos cidadãos que se abstiveram, porventura a maioria, tivessem ido votar, seguramente, não era para apoiar a
política deste Governo, era, precisamente, para o contrário.
Aplausos do PCP.
Infelizmente, não foram votar! Infelizmente, permitiram que outros decidissem por eles e é um grande
trabalho de cultura democrática e de pedagogia democrática trabalhar para que os cidadãos não se
abstenham e manifestem a sua vontade nas urnas.
Mas a Sr.ª Deputada referiu ainda um outro aspeto muito relevante que respeita ao tratado orçamental.
Também ficou claro nestas eleições o repúdio às orientações que têm prevalecido na União Europeia e em
Portugal em matéria orçamental. Porque há uma coisa que é clara: não se pode dizer que se é contra a
austeridade e, ao mesmo tempo, que se aceita o tratado orçamental. É absolutamente contraditório! Não é
possível aceitar as imposições do tratado e, ao mesmo tempo, dizer que queremos aliviar a austeridade que
tanto tem sacrificado o povo português.
É preciso, Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, que as forças políticas assumam, claramente, que o único
caminho para Portugal, o único caminho para que o povo português possa viver melhor, passa por rejeitar
frontalmente o conteúdo deste tratado orçamental que asfixia a economia portuguesa.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Catarina
Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Queria começar, em nome do
Bloco de Esquerda, por saudar os resultados eleitorais do Partido Socialista, do PCP e da CDU e do MTP
(Partido da Terra) nestas eleições europeias.
Como sabem, as eleições europeias ficaram marcadas em Portugal e na Europa por um nível de abstenção
recorde que nos deve preocupar e sobre o qual devemos refletir.
Por toda a Europa, cidadãos e cidadãs mostram, ao não participarem no ato eleitoral, como se sentem
distantes das escolhas da Europa, das instituições europeias, dos seus representantes e da forma como têm
sido representados.
Com a abstenção que existiu nestas eleições, a União Europeia perde representatividade e perde
legitimidade democrática.
As políticas de diretório, que não admitem alternativa ao neoliberalismo e que impedem o desenvolvimento,
afastam a União Europeia da democracia, da construção cidadã, de um futuro que possa dizer alguma coisa
aos povos da Europa.
Não é por acaso que as políticas neoliberais, que têm feito um recuo no Estado social da Europa, um recuo
nos direitos do trabalho e que têm transformado o desemprego numa marca permanente para as gerações
mais jovens e uma marca que exclui também os desempregados de longa duração de uma cidadania plena,
são políticas que destroem vidas e que têm também como outro lado da moeda — talvez do mesmo lado da
moeda — o crescimento da extrema-direita na Europa, incluindo movimentos neonazis, fascistas, xenófobos e
racistas.
É uma Europa perigosa esta em que, não existindo resposta política, o protesto popular tem tão diversos e
tão perigosos caminhos, a lembrar as zonas mais escuras e os tempos mais escuros que já atravessámos.
Em Portugal, como sabem, a abstenção foi maior do que a média na União Europeia. Apenas um em cada
três eleitores foi às urnas, sendo que a grande generalidade da população não quis participar nas eleições
europeias, e a sua não participação tem de ser vista como um sinal claro do descrédito na representação nas
instituições políticas e também do descontentamento com as políticas que estão a ser seguidas em Portugal e
na Europa.