14 DE JUNHO DE 2014
13
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE) — Aparentemente, só a Sr.ª Ministra é que não percebeu, porque disse
que ele continua a ser fundamental para a estratégia do Governo. Sr.ª Ministra, parece que foi a única que não
percebeu. É que o fundamental desse documento foi considerado inconstitucional. O fundamental desse
documento — os cortes nos salários e nas pensões — foi considerado inconstitucional! Este documento já não
existe, e só a Sr.ª Ministra, porque não tem nenhuma estratégia, é que diz que ele continua a existir.
Srs. Deputados, hoje vamos votar um documento que dizem ser de estratégia orçamental mas que o PSD,
o CDS e parte do Governo reconhecem que já não tem estratégia, porque ela foi demolida. Por isso, votar o
que não existe é inaceitável.
A única coisa que podemos ter, quer do lado do CDS, quer do lado do PSD, é o reconhecimento de que o
Documento de Estratégia Orçamental não existe e, por isso, só podem votar a favor de todos os projetos de
resolução da oposição, porque esta estratégia não existe, foi demolida.
O que é que esta estratégia dizia? Dizia que o Governo só tem um caminho e um objetivo para fazer a
consolidação: cortar nos salários e nas pensões, diretamente — e isso foi chumbado pelo Tribunal
Constitucional — ou indiretamente, através do aumento do IVA, através do aumento da TSU, através do
aumento das contribuições para a ADSE, para a ADM, para os SAMS. Essa é a escolha do Governo, e essa
escolha que o Governo fez está em causa.
Quando a maioria se levantar para votar estará a dizer que concorda com um Governo que já não tem
estratégia. Quando foi perguntado que estratégia tinha, vimos qual foi a resposta da Sr.ª Ministra. Calou-se.
Calou-se porque não tem estratégia! Não sabe o que dizer!
Quando perguntámos o que ia fazer agora, disse que ia tentar umas coisas a ver se o Tribunal
Constitucional aceita; se o Tribunal Constitucional não aceitar, vai tentar outras coisas, a ver se dessa vez o
Tribunal Constitucional aceita; se não aceitar, vai tentar novamente outras coisas, a ver se essas são aceites.
Ora, não há estratégia. É na base da tentativa e erro, jogando com a vida das pessoas. Esta é que é a
verdadeira escolha estratégica deste Governo.
É uma irresponsabilidade — e meço bem as palavras — o que este Governo está a fazer. Governa contra a
Constituição e, porque tem consciência de que o faz, já sabe que vai novamente tentar testar o Tribunal
Constitucional para ver se desta vez passa.
A maioria, ao votar ao lado do Governo nesta matéria, está a dizer que é tão irresponsável quanto o
Governo, que não quer estabilidade no País, o que quer é uma instabilidade permanente, porque não tem
outra escolha que não seja governar contra a Constituição.
Não há estratégia e a única alternativa que está em cima da mesa é aquela que, por exemplo, o Bloco de
Esquerda coloca como central: renegociar a dívida, devolver às pessoas aquilo que é de direito, porque a
Constituição assim o defende, e ter uma política de crescimento — repito, de crescimento — e não de
empobrecimento, como a que tem sido seguida por este Governo.
São escolhas, são alternativas, e é uma estratégia, que é exatamente aquilo que o Governo não tem.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para apresentar o projeto de resolução n.º 1067/XII (3.ª), tem a palavra o Sr.
Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados: O Documento de Estratégia Orçamental 2014-2018, que o Governo apresentou aos portugueses,
não passa de um pronúncio, com sinais visíveis e claros das intenções do Governo em perpetuar as políticas
da troica, agora sem troica. Ou seja, a troica vai embora, mas a intenção do Governo é a de que as políticas
da troica fiquem. Vai a troica, mas ficam as políticas.
O Governo insiste, assim, nas políticas de austeridade, de empobrecimento e de imposição de sacrifícios
às famílias portuguesas. Afinal, este Documento, que se diz de Estratégia Orçamental, mais não é do que a
afirmação de que a austeridade veio para ficar.
Em bom rigor, o que o Governo pretende dizer aos portugueses com este DEO é tão só: esqueçam o que
disse o Governo sobre os sinais positivos; esqueçam o que disse o Governo sobre os milagres económicos;
esqueçam o que disse o Governo sobre a luz ao fundo do túnel; esqueçam o que disse o Governo sobre o