28 DE JUNHO DE 2014
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atividade, contou com um compromisso na concertação social, contou com um entendimento na concertação
social entre os representantes dos empregadores e os representantes dos trabalhadores. Sabemos que, para
podermos ultrapassar o impasse que hoje existe na contratação coletiva — impasse que foi muito imposto por
uma medida que estava no Memorando original da troica e que o Governo agora consegue desfazer, isto é,
que o Governo consegue ultrapassar —, para podermos estimular a contratação coletiva em Portugal,
desbloquear a emissão de portarias de extensão não seria, por si só, suficiente para elevarmos os níveis de
contratos coletivos em Portugal, é essencial que também mudemos algumas regras que estimulem e
incentivem que empregadores e trabalhadores se possam sentar à volta da mesma mesa, tal como acontece
nos países mais prósperos e produtivos da União Europeia e tal como vai passar a acontecer em Portugal. É
essa noção que eu tenho. Isto magoa e preocupa muito o Partido Comunista Português, mas é isso que os
trabalhadores e os empregadores em Portugal merecem e que passarão a ter a partir da aprovação deste
diploma.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Está inscrito, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
Antes de lhe dar a palavra, apelo a todos os Srs. Deputados para que se inscrevam, porque neste
momento não registamos mais inscrições.
Sr. Deputado José Luís Ferreira, tem a palavra.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados: Com esta proposta que o Governo hoje nos apresenta, temos o Governo no seu melhor. Temos o
Governo que disse uma coisa ontem e que hoje faz exatamente o contrário, temos o Governo como nos
habituou: a faltar à palavra e a dar o dito por não dito.
O Governo que, há uns tempos, dizia que a reforma laboral estava concluída, dizia que a legislação laboral
não seria mais objeto de revisões, apresenta-nos hoje uma proposta para destruir a contratação coletiva.
Aqui está, portanto, o Governo no seu melhor: a faltar à palavra, como habituou os portugueses, e a fazer
mais um jeito às entidades patronais, como também já nos vai habituando.
Ora, vejamos o que pretende o Governo com esta proposta.
Primeiro, quer reduzir os prazos de caducidade das convenções coletivas de trabalho; depois, quer
introduzir a possibilidade de suspensão da contratação coletiva; por fim, quer impor uma nova revisão do
processo de caducidade, a fazer no prazo de um ano, para agravar ainda mais o que agora nos apresenta.
Ora, este Governo tem mesmo um problema sério com a nossa Constituição. É que, ao contrário do que
estabelece o n.º 4 do artigo 56.º do texto constitucional, o Governo, com esta proposta, promove o
aparecimento de vazios contratuais, quando o que deveria fazer, nos termos constitucionais, era assegurar a
eficácia das normas da contratação coletiva.
Mas mais: com esta proposta, o Governo pretende alterar, por via legislativa, as regras que foram
acordadas livremente pelas partes, no âmbito da contratação coletiva. O Governo, que não é parte, volta a
tomar partido por uma das partes, a parte do costume, a parte das entidades patronais.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Exatamente!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — O Governo volta, assim, a atentar contra os direitos de quem
trabalha, num processo, aliás, perverso, que só encontra explicação porque estamos perante um Governo de
classe. Porque o Governo, que quer facultar às entidades patronais o recurso aos mecanismos de caducidade
das convenções coletivas de trabalho e, por essa via, acentuar ainda mais os desequilíbrios já existentes a
favor das entidades patronais, tem de ser, de facto, um Governo de classe.