28 DE JUNHO DE 2014
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Aplausos do PS.
Mas quero dizer ao Sr. Ministro que ainda bem que há pouco falámos da questão da contratação coletiva,
porque é o espelho do que vai acontecer. Se não fosse a contratação coletiva vinham mais cortes no trabalho
suplementar para os trabalhadores portugueses. Então, ainda bem que há contratação coletiva para
salvaguardar alguns!
Mas, para além do enredo da moeda de troca… Grande favor, repito, que o Governo faz aos trabalhadores
portugueses em não lhes reduzir os seus direitos e as suas compensações por despedimentos ilegais…
Obrigado, Sr. Ministro! Os trabalhadores portugueses agradecem!
Para além disso, o que é que justifica também toda esta pressa, este engarrafamento da discussão
pública? A troica não saiu? Não prescindiram do último cheque? Portanto, esta é uma decisão deste Governo,
é o caminho deste Governo e nada tem de ver com a troica, porque foram VV. Ex.as
que prescindiram do
cheque e que disseram que a troica já saiu.
Queria ainda dizer-lhe, Sr. Ministro, que nada disto bate certo. O corte do pagamento do trabalho
extraordinário para todo o ano de 2014 seria justificado no setor público pela redução da despesa — foi assim
que foi justificado pelo Governo — e seria uma medida temporária e extraordinária. Então, Sr. Ministro, como é
que justifica, do ponto de vista de racionalidade financeira e económica, que se faça esse corte, o não
pagamento do trabalho extraordinário, no setor privado?
Sr. Ministro, isso não vai implicar a redução de receitas para os cofres do Estado, ao cortar rendimento aos
trabalhadores do setor privado? Isso não vai, Sr. Ministro, provocar uma queda na procura e no consumo
interno, tão importante para a recuperação económica? Aliás, o Governo até tem assumido esse discurso.
Isto não bate certo, Sr. Ministro, e não há nenhuma justificação do ponto de vista da racionalidade
financeira e económica.
Termino, Sr. Ministro, dizendo-lhe o seguinte: a vossa conceção daquilo que é temporário ou extraordinário
não faz nenhum sentido do ponto de vista do que estas palavras significam.
O Governo é, por natureza democrática, transitório e temporário e, ainda bem, Sr. Ministro, que a vossa
transitoriedade e o vosso tempo está a chegar ao fim. Ainda bem que este Governo é temporário e se
aproxima do fim!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Sr. Ministro, é preciso ter, permita-
me a expressão, muita lata para vir aqui dizer que paga o trabalho extraordinário e o trabalho complementar,
ou seja, aquele trabalho que é feito em dias de descanso compensatório e feriados, a metade e que está a
fazer um grande favor aos trabalhadores, ou seja, o Sr. Ministro veio aqui dizer-nos: «Calma aí que ainda
podia ser pior…!» Aliás, é por essa sua afirmação que se compreende a excitação da bancada do CDS-PP e a
invocação de uma série de ideólogos e de ideologias.
Eu diria à bancada do CDS que as vossas leis, esta e a que anteriormente discutimos, porque, de facto,
está tudo ligado, assemelham-se muito às leis do Estado Novo em que o supremo interesse da empresa, ou
seja, o supremo interesse do capital, se sobrepunha sempre aos direitos dos trabalhadores. Era assim no
horário de trabalho, era assim no trabalho extraordinário, era assim na contratação coletiva e, portanto, é essa
invocação que temos aqui que fazer. As vossas leis, as dos senhores, são muito parecidas às leis do Estado
Novo. É nesse plano que estão.
Os senhores dizem-nos que isto não é uma luta. É uma luta, sim senhor! Sempre foi uma luta! O valor do
trabalho, os direitos do trabalho, a justa compensação por se trabalhar mais para além do horário de trabalho é
uma luta e continuará a ser uma luta. É uma luta de direitos, é uma luta de modernidade, é uma luta pela justa
repartição dos rendimentos num país e os senhores, nessa luta, tomaram partido, porque acham que quem
tem mais direitos são os capitalistas, são os bancos, são os patrões.
E o Sr. Ministro também tem a distinta lata — permita-me que lhe refira isto outra vez — de nos dizer que
só toma esta medida para nos igualar a alguns países europeus.