I SÉRIE — NÚMERO 103
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Essas medidas têm sido facilitadas também através da Rede de Municípios Solidários e do Instituto da
Habitação e Reabilitação Urbana que, nos últimos tempos, atribuiu 36 casas a vítimas de violência doméstica,
precisamente para facilitar o processo de autonomização.
É evidente que é preciso investir na capacitação económica das vítimas e no seu processo de
autonomização, e isso está a ser feito e continuará a ser.
Relativamente a outros aspetos focados nestas últimas intervenções desta ronda, mas também na
primeira, quero dizer que, relativamente à intervenção da Sr.ª Deputada Paula Cardoso, a importância das
redes locais que associam municípios, que associam as forças de segurança, que associam as IPSS
(Instituições Particulares de Solidariedade Social), as OGN (Organizações não Governamentais) locais,
existem e serão ampliadas, porque é reconhecida a utilidade desse trabalho.
Ainda recentemente, em Bragança, reuni com a rede local em que todas essas entidades estavam
representadas e em que todas contribuem para que se perceba melhor por que é que a nível mais micro, a
nível distrital ou mesmo a nível concelhio, há uma variação da violência reportada.
Essas redes existem, têm um trabalho respeitável e meritório e continuarão a existir com o nosso apoio,
como não pode deixar de ser. Aliás, a CIG tem em marcha um processo de ligação direta e de intervenção
junto de 142 municípios no ano de 2014 para reforçar a intervenção dos municípios nesta área. Aliás,
aproveito para saudar a Câmara Municipal de Lisboa que recentemente aprovou um Plano de Prevenção e
Combate à Violência Doméstica e de Género, dando-lhe a mesma designação que foi atribuída ao Plano
Nacional, na sequência do V Plano aprovado e em vigor desde janeiro, o que significa que há também nos
municípios uma nova consciência do seu próprio papel em relação à prevenção e ao combate a esta matéria.
Quanto à intervenção da Sr.ª Deputada Mónica Ferro, sobre a mutilação genital feminina, quero dizer que
considero da maior importância os progressos que têm sido feitos nesta área. Partiu-se do zero! Durante uma
década havia advocacy, sensibilização, seminários e conferências sobre o tema, mas não havia o registo de
um único caso, não se conhecia uma única situação.
Desde março está a funcionar a plataforma de registo de dados para a saúde e há nove registos de casos,
casos do tipo 1 e do tipo 2. Sabemos que todos esses atos foram praticados no estrangeiro, mas
continuaremos a fazer esse registo de casos e, agora, só espero que não haja quem venha dizer: «Bom, como
há nove casos desde março e antes não havia nenhum, a mutilação genital feminina cresceu nove vezes…!»
Atenção, Sr.as
e Srs. Deputados, o que não havia era conhecimento. Conhecimento, zero! Não havia
conhecimento sobre os casos reais que existiam no País.
É um progresso absolutamente fundamental no conhecimento de uma realidade que é bárbara, de uma
realidade que temos de combater com toda a nossa energia e que, pela primeira vez, conseguimos aproximar-
nos do retrato sério daquela que é a situação do País relativamente à mutilação genital feminina.
Sr.ª Deputada Rita Rato, quero agradecer o reconhecimento do trabalho feito e dizer-lhe que a Sr.ª
Deputada sabe bem que eu não a acompanho na aproximação que faz entre as vítimas de tráfico e as
mulheres prostituídas.
Já tivemos esse debate várias vezes e a Sr.ª Deputada sabe que a minha atenção sobre o tráfico de
mulheres para exploração sexual é total, mas eu não confundo essas duas realidades e, sendo a prostituição
uma realidade social muito grave e dramática, não há nas mulheres prostituídas necessariamente uma
coincidência com o estatuto de vítimas de tráfico e, portanto, nesse ponto concreto, não a posso acompanhar.
Sr. Presidente, com a sua permissão, passo agora a palavra ao meu colega Secretário de Estado da
Justiça.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Antes, queria lembrar que estão a decorrer na Sala D. Maria
eleições para membros da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA).
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado da Justiça.
O Sr. Secretário de Estado da Justiça (António Costa Moura): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados:
Permito-me acrescentar ao profícuo debate que aqui vem decorrendo…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — O debate é profícuo?!