I SÉRIE — NÚMERO 103
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continuar a atacar quem trabalha, quer continuar a governar contra a Constituição da República Portuguesa e
quer continuar, mesmo sem a desculpa do pacto de agressão, o caminho de empobrecimento da maioria dos
portugueses.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Bem pode o Governo, com a habitual propaganda, insistir na mentira das
devoluções; a verdade é que o Tribunal Constitucional acabou com os cortes salariais e os trabalhadores
estão a receber os seus salários por inteiro.
O que o Governo, agora, vem tentar impor são novos cortes e quer que estes se prolonguem por vários
anos.
Bem pode o Governo afirmar que os cortes são provisórios e que tem a intenção de «reverter» 20% dos
cortes em 2015, curiosamente ano de eleições. A verdade é que o Governo quer tornar os cortes salariais
definitivos e, quanto à dita reversão, de intenções está o inferno cheio!
Para o PCP, o que se impõe é a eliminação dos cortes nos salários, devolver o que foi tirado a quem
trabalha e não aplicar novos cortes, como faz o Governo.
O Sr. David Costa (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Importa também referir que os cortes nos salários dos trabalhadores da
Administração Pública foram declarados inconstitucionais e mesmo os cortes do Governo Sócrates, agora
recuperados, apenas foram declarados constitucionais devido à existência do chamado programa de
assistência financeira.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Não partilhando desse entendimento, a verdade é que nem este
argumento subsiste, pelo que o Governo insiste em aprovar medidas que são claramente inconstitucionais.
Aliás, esta proposta de lei é uma espécie de ensaio constitucional, uma vez que o Governo quer que exista
uma fiscalização preventiva da constitucionalidade, já solicitada e prontamente aceite pelo corresponsável
Presidente da República.
Esta proposta de lei surge porque o Governo queria cortar nos salários da Administração Pública a partir
dos 675 €. Como o Governo viu essa intenção esbarrar na Constituição da República Portuguesa, com a
declaração de inconstitucionalidade, agora pretende recuperar os cortes da «era» Sócrates para continuar o
seu caminho de empobrecimento de quem trabalha.
É por isso que esta proposta de lei, além de cortar nos salários acima dos 1500 €, obriga a integração das
carreiras subsistentes na tabela remuneratória única, o que constitui um novo ataque aos trabalhadores que
ainda possuem carreiras especiais, e define uma «revisão» da tabela remuneratória única com vista à redução
dos salários.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Com vista à transparência!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Esta proposta de lei em nada tem a ver com equidade ou justiça. Esta
proposta é um assalto aos salários, que visa empobrecer quem trabalha para entregar mais uns milhões a
quem já acumula gigantescas fatias da riqueza nacional.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Com esta proposta de lei, fica claro que PSD e
CDS defendem uma das mais gravosas medidas do Governo PS de Sócrates: o corte dos salários. Fica assim
demonstrado que, afinal, PS, PSD e CDS têm muito mais coisas que os unem do que os separam.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!