I SÉRIE — NÚMERO 104
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Por último, Sr.ª Deputada, não posso deixar de colocar a seguinte questão: neste momento, está em curso
o processo de privatização da empresa de resíduos. Uma das taxas importantes para o valor desta empresa é
a taxa de gestão de resíduos. Pergunto: como é que o Sr. Ministro pode afirmar que fez o trabalho de casa, se
também tem, neste pacote, a taxa de gestão de resíduos, quando está a vender a própria empresa antes de
estabilizar um instrumento fundamental na política de resíduos? Alguma coisa aqui não bate certo. Isto não
passa de um conjunto de intenções. É mais uma grande reforma, mas não passa, ao fim e ao cabo, de um
grande bluff.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, antes de dar a palavra ao Sr. Deputado Luís Fazenda, informo a
Câmara que temos presente na galeria diplomática um conjunto de Deputados do Parlamento de
Moçambique, a quem cumprimentamos com todo o gosto.
Aplausos gerais, de pé.
Para fazer perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, o tema da neutralidade
fiscal, numa suposta reforma da fiscalidade ambiental, tem sido persistente e enigmático ao longo do tempo.
Já se questionou o Sr. Ministro Moreira da Silva, várias vezes, sobre quais eram os parâmetros da
neutralidade fiscal e ele sempre nos disse: «Aguardem pelo relatório da comissão que está a estudar essa
alteração fiscal».
Essa alteração começou por ser anunciada em grandes parangonas como uma revolução fiscal. E porquê?
Porque se dizia, pelo menos teoricamente, que visava substituir impostos sobre rendimentos por impostos
ambientais. Percebeu-se, a partir de certa altura, que a ambição tinha sido bastante mais limitada e que não
haveria uma alteração dos impostos sobre rendimentos mas, sim, uma reconversão ou uma reconfiguração
dos chamados «impostos ambientais» atualmente existentes. Percebeu-se, portanto, que, acerca desta
matéria, «a montanha tinha parido um rato».
O que verificamos, agora, é que se trata de uma não-proposta, é um estudo de uma comissão que já
morreu do ponto de vista político. E não é por acaso que nem o CDS nem o PSD falaram hoje acerca desta
declaração política, porque a Vice-Presidente da bancada do CDS, Cecília Meireles, já arrasou a proposta. O
CDS já deu cabo da proposta, dizendo que a mesma é inconsequente do ponto de vista da economia, que vai
penalizar as empresas energéticas e outras, e que, com certeza, não fará caminho para esta maioria.
Portanto, esta proposta deixou em maus lençóis, com grande embaraço, o Sr. Ministro Jorge Moreira da Silva,
que aqui não encontrou defensores, e já se percebeu que o seu destino tem hora marcada e certidão de óbito
anunciada.
Convinha ver os conteúdos da proposta. Estes em vez de, eventualmente, condicionarem e aumentarem a
punção fiscal sobre os acionistas das empresas de energia, procuram transferir esse ónus para os
consumidores e, em geral, para aquilo que dificulta a retoma da economia, a retoma do desenvolvimento e do
crescimento económico, o que é absolutamente inaceitável.
Seguramente, poderemos todos considerar, e de forma mais ousada, que o problema não está na questão
dos sacos de plástico, que o problema não está num conjunto de variadíssimos outros incentivos, quer à
eficiência energética quer à redução da economia carbonizada — estaremos de acordo acerca disso, pelo
menos é o que esperamos —, contudo não podemos estar de acordo com um agravamento extraordinário,
que não tem nada de neutralidade fiscal, sobre o contribuinte, sobre o consumidor e sobre a economia.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Isso é o pior de todos os mundos: nem substitui outro tipo de rendimentos;
nem é neutral do ponto de vista fiscal; e ainda é antieconómico e favorece os acionistas das empresas,
prejudicando os consumidores.