11 DE JULHO DE 2014
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Posso recordar que foram rejeitadas propostas do Grupo Parlamentar Os Verdes, por exemplo, para
dedução do passe social no IRS, ou para a descida do IVA relativamente às bicicletas, ou para consignação
de uma parte do imposto sobre produtos petrolíferos para o investimento no transporte público; ou para a
reposição dos benefícios fiscais à aquisição de equipamentos para energias renováveis, ou para redução do
IVA relativamente a produtos com matéria reciclada. E não maço mais as Sr.as
e os Srs. Deputados com as
inúmeras propostas que Os Verdes apresentaram, e eu poderia continuar aqui a elencar, mas que esta
maioria, inacreditavelmente, foi rejeitando.
Mas talvez não fosse mau relembrar que foi este Governo PSD/CDS que retirou, por exemplo, os
benefícios fiscais às empresas para se instalarem no interior do País, atacando assim aquele que é, de facto,
um grave problema ambiental no País, que se prende com as assimetrias regionais e com tudo o que daí
decorre, e com o despovoamento do interior do País, portanto, de vastas regiões deste País, criando assim
condições para o esvaziamento desse território.
Mas, Sr.as
e Srs. Deputados, gostaria de dizer que a fiscalidade ambiental pode ser através de dois
caminhos: um, procurando incentivar, repito, incentivar melhores comportamentos ambientais e aí incidirá,
sobretudo, sobre os custos acrescidos que os cidadãos têm por procurarem melhores desempenhos e
comportamentos ambientais; outro, aumentar as receitas para o Estado, incidindo, sobretudo, sobre a
penalização. E daquilo que tivemos a oportunidade de ler da proposta, não temos dúvida de que foi este o
caminho apontado. Parece claro, portanto, que esta proposta incide, sobretudo e fundamentalmente, sobre a
penalização.
Ora, Sr.as
e Srs. Deputados, esta proposta representa, ao nível da receita fiscal para o Estado, cerca de
160 milhões de euros; de penalização, 180 milhões de euros; de incentivos, 17 milhões de euros. Isto
representa, Sr.as
e Srs. Deputados, um agravamento do já brutal aumento de impostos com que este País se
confronta.
Fala-se da neutralidade fiscal desta dita «reforma da fiscalidade ambiental», mas nós precisamos saber —
e isso não é dito — como é que isso vai ser garantido. Pôr-se-á, por exemplo, a hipótese de ser compensada
através da redução da TSU para as empresas?
Sr.as
e Srs. Deputados, nós não concordaríamos com uma proposta desta natureza, porque não vale
«misturar alhos com bugalhos», não vale retirar receitas da segurança social, que são dos trabalhadores, e
que têm uma consignação específica, compensando, por outro lado, as empresas e prejudicando os cidadãos
e fragilizando a segurança social.
Gostaríamos, portanto, de dizer aqui, hoje, que não se pode discutir esta proposta, sem conhecer o reverso
da medalha da compensação que gerará a neutralidade fiscal de que se fala e que não conseguimos
vislumbrar nesta proposta.
Por outro lado, não se pode discutir esta proposta, ou uma proposta desta natureza, sem falar e
apresentar, simultaneamente, um programa de sensibilização e de educação para os cidadãos.
Começo a acreditar que muitas Sr.as
e Srs. Deputados falam da questão da sensibilização da educação dos
cidadãos sem acreditar nela. E quando falamos, por exemplo, dos sacos de plástico ou da componente da
reciclagem, a sensibilização é uma matéria fulcral, mas nisso o Governo não aposta.
Também não se pode falar desta proposta sem oferecer alternativas, e gostaria de dar o exemplo dos
transportes públicos. Para retirar os carros das cidades, que é uma questão fundamental, é preciso um
investimento sério — não a oferta de transporte que é feita aos cidadãos — para que os cidadãos possam
optar e sintam vantagem em largar o automóvel individual para se dedicarem à utilização do transporte
coletivo. Mas quando, por exemplo, os utentes da Fertagus não têm acesso ao passe social intermodal ou
quando os utentes do Metro Sul do Tejo, para terem acesso a esse passe, têm de pagar uma taxa adicional,
está tudo errado, na lógica do incentivo aos cidadãos para a utilização do transporte coletivo.
Por outro lado, temos receio de que esta proposta venha a agravar desigualdades sociais. Reparem, Sr.as
e
Srs. Deputados: ela está construída numa lógica de que quem tem dinheiro paga, quem não tem dinheiro
paciência, prescinde. O aumento do preço dos combustíveis e a taxa à entrada das cidades,
independentemente da discussão sobre as propostas em concreto, tem justamente essa consequência: quem
pode paga, e não pesará muito; quem não pode fica, naturalmente, enrascado.
O Sr. David Costa (PCP): — Essa é que é essa!