I SÉRIE — NÚMERO 104
6
onde estava o Banco de Portugal para dizer que havia uma lei e que havia uma responsabilidade social? Não
estava!
De facto, parece que nesta história a Dona Inércia foi o Banco de Portugal.
Aplausos do BE.
Nesta matéria, dizem-nos que tudo ficará bem agora, porque o Banco de Portugal diligentemente
conseguiu separar o Banco Espírito Santo do Espírito Santo Financial Group, conseguiu, até, dizem-nos, tirar
a família Espírito Santo do Banco Espírito Santo. Já lá não está Ricardo Salgado, mas a verdade é que a uma
família substituiu-se outra família. Sai a família Espírito Santo para entrar a «família laranja» e, por isso, de
famílias em famílias são sempre os interesses da família dos que nos governam que se impõem à destruição
do País.
Aplausos do BE.
Sr.as
e Srs. Deputados, não achamos normal esta situação. Não achamos normal que se acumulem
buracos financeiros de 7700 milhões de euros e que nos digam que está tudo bem e que tudo está controlado.
Não achamos normal que, havendo o resultado de uma atividade que pode destruir o sistema financeiro
português, nos venham dizer que tudo vai bem e para não nos preocuparmos. Não achamos normal que se
substituam e se nomeiem interesses políticos para a banca que, supostamente, até é privada.
De facto, aqui cai o engodo da direita porque nos dizem sempre que há uma separação de poderes, mas
eles é que nunca se querem separar do poder, particularmente do financeiro.
Vejamos o que aconteceu com estas nomeações: nomearam um Conselheiro de Estado para agora
aconselhar o Banco Espírito Santo, nomeavam aquele que era o responsável da gestão da dívida pública para
agora aconselhar o Banco Espírito Santo e, sobre esta matéria, diz-nos o Governo, pela voz do Sr. Primeiro-
Ministro, que até está tranquilo porque agora tudo fica melhor.
Sr.as
e Srs. Deputados, nenhum de nós está tranquilo, porque, enquanto discutimos, discute-se na Espírito
Santo Internacional, que detém o Banco Espírito Santo, se vai ou não pedir a insolvência; enquanto
discutimos, há interesses públicos que estão a ser passados para os privados; e enquanto discutimos, há um
País que não aceita que nós fiquemos calados perante esta realidade do sistema financeiro.
A responsabilidade de todas e de todos nós aqui, hoje, é de dizer que a Assembleia da República não
aceita que haja dinheiro de contribuintes a ir para este grupo económico, seja porque via for, e que não
achamos normal — e não nos calamos — se o Governo achar aceitável e até tranquilizante que quem detém o
conhecimento da dívida pública e daquilo que é fundamental no nosso País passe, agora, a ser quem defende
os interesses de um banco que serviu para os negócios mais obscuros.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, termino não sem antes lembrar uma ideia que é recorrente: o
banco do regime de Portugal, o Banco Espírito Santo, foi o banco de muitos regimes, até serviu para lavar
dinheiro de ditadores, entenda-se de Pinochet, por exemplo.
Agora, o que nós não aceitamos é que, depois de esta família destruir aquele banco, porque o saqueou,
que seja o dinheiro de todos nós a pagar esse buraco. Isso nós não aceitamos e é este o compromisso que o
Bloco de Esquerda traz.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, estão inscritos, para fazer perguntas, os Srs.
Deputados João Galamba, do PS, Duarte Pacheco, do PSD, e Paulo Sá, do PCP.
Uma vez que o Sr. Deputado pretende responder um a um, tem a palavra o Sr. Deputado João Galamba.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr.ª Presidente, peço a palavra para uma interpelação à Mesa sobre a
condução dos trabalhos.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, Sr. Deputado.