18 DE SETEMBRO DE 2014
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Sr. Presidente, Srs. Deputados: Vivem-se hoje tempos de grave crise económica e social em que retornam
formas antigas de exploração, de agravamento da pobreza, da consideração generalizada de que tudo se
vende e tudo se compra, mesmo a vida, mesmo a dignidade humana.
A violência no mundo do trabalho tem-se agudizado: a imposição de extenuantes ritmos de trabalho, a
manutenção de salários abaixo do limiar da pobreza, as discriminações salariais, a violação sistemática de
direitos laborais.
O trabalho não declarado e ilegal, a exploração do trabalho imigrante com situações de autêntica
escravatura e, em geral, o tráfico de mão-de-obra é uma realidade difícil de avaliar na sua verdadeira
dimensão, tal como a economia subterrânea em que está inserido e que vários estudos situam entre 20 a 25%
do PIB.
Em Portugal tem crescido significativamente o número de trabalhadores com situações de trabalho ilegal
ou não declarado e aumenta o recurso ao trabalho temporário para tarefas permanentes.
Ainda esta semana, a CGTP denunciou que muitos jovens estudantes e trabalhadores desempregados
estão a ser utilizados pelas empresas do setor da restauração e da hotelaria como «mão-de-obra gratuita ou
barata», através da dita «formação» e de «estágios profissionais».
Muitas destas empresas utilizam estas pessoas como mão-de-obra gratuita nos períodos de época alta,
substituindo necessidades efetivas de trabalhadores obrigando-as à realização de horários de 50 ou 60 horas
semanais.
A realidade nacional caracteriza-se por uma reduzida eficácia da ACT, agravada pela falta de meios
humanos e técnicos, pela ausência de uma justiça célere, com elevadas e injustificadas custas judiciais e
entraves no acesso ao apoio judiciário pela generalidade dos trabalhadores, que impede, em muitos casos, o
próprio acesso à justiça e aos tribunais.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O contexto de precariedade, arbitrariedade e violação de direitos que se verifica
no nosso País impõe o reforço e o aumento da eficácia de mecanismos de informação, fiscalização, punição
dos infratores, bem como esquemas de apoio aos trabalhadores. Por isso, acompanhamos o objetivo da
proposta aqui em discussão.
O PCP defende uma política de Estado que abranja as mais diversas áreas e estruturas, que justifica a
criação de um programa nacional de combate à precariedade e ao trabalho ilegal, verificando ou não situações
de tráfico de seres humanos.
Da parte do PCP, combatemos conceções e modelos ultrapassados, contrapomos com alternativas,
afirmamos um caminho baseado no desenvolvimento, numa economia ao serviço do ser humano, no valor
intrínseco do trabalho com direitos.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana
Aiveca, do Bloco de Esquerda, que dispõe de 16 segundos.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Nós não podemos fechar os olhos à
realidade. Vemos todos os dias situações dramáticas em cada campanha que acontece, e estamos no
momento em que vão acontecer campanhas, nomeadamente na agricultura.
O Bloco de Esquerda quer discutir com todos e com todas este projeto e por isso mesmo, porque ele está
em discussão pública a partir de hoje, iremos propor que, em sede de Comissão, se oiçam todas as entidades
que têm ação neste terreno, desde a ACT, ao SEF, à Cruz Vermelha,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — … às associações representativas dos imigrantes a quem estes recorrem
quando se veem numa situação degradante. Esperamos que a maioria queira fazer essa discussão.