18 DE SETEMBRO DE 2014
47
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, queria
dizer que Os Verdes acompanham as propostas de recomendação que o Partido Socialista apresenta aqui,
hoje, através desta iniciativa legislativa, porque, de facto, os pagamentos em atraso, sobretudo os das
pequenas e médias empresas, constituem um grave problema, que não é apenas dessas empresas, é um
problema da nossa economia, da economia nacional.
Se é verdade que este não é um problema de hoje, é também verdade que, nos últimos anos, este
problema se agravou de forma assustadora, não só com o agravamento da situação económica das próprias
empresas, mas também, e sobretudo, com os gigantescos obstáculos e dificuldades que as pequenas e
médias empresas hoje enfrentam no que diz respeito ao acesso ao crédito.
Os Verdes, como, aliás, os restantes partidos da oposição, já há muito que têm vindo a apresentar
propostas no sentido de encontrar respostas para este grave problema, que, aliás, está pura e simplesmente a
sufocar as pequenas e médias empresas.
Sucede que os partidos da maioria têm vindo a recusar sucessivamente essas propostas e a permitir a
continuação do reinado da política do «olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço», porque, de
facto, o que nesta matéria se passa é que o Estado exige às pequenas e médias empresas aquilo que o
próprio Estado não faz. E não faz porque o Governo não cumpre com os prazos de pagamento, em
conformidade com os compromissos que, contratualmente, portanto de livre vontade, assumiu, mas exige às
pequenas e médias empresas que o façam.
Isto é, o Governo exige que as pequenas e médias empresas façam aquilo que o próprio Governo não faz.
É a política franciscana no seu pleno: «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço».
É também por isso que acompanhamos as recomendações do Partido Socialista nomeadamente no que
diz respeito à necessidade de o Estado cumprir os prazos de pagamento, o que está, aliás, obrigado a fazer
por força da lei, nomeadamente por via do Decreto-Lei n.º 62/2013, ou à criação de um regime especial que
permita às empresas só terem de pagar o IVA quando o Estado cliente proceder ao respetivo pagamento, ou
ainda que o Governo procure minimizar os impactos na liquidez dos custos internos nas empresas
provenientes dos incumprimentos dos prazos de pagamento.
Srs. Deputados, isto é o mínimo que se pode fazer, se o Governo estiver, de facto, interessado em salvar
milhares de pequenas e médias empresas, que já estão a ser severamente penalizadas e a viverem um
verdadeiro sufoco, com a quebra da procura interna que este Governo continua a promover com as suas
políticas de austeridade e que é absolutamente fundamental para a sobrevivência dessas empresas.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra, a Sr.a Deputada Mariana
Mortágua, do BE.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Sabemos bem que as PME são
essenciais para o nosso tecido produtivo. Elas são 98% de todo o tecido empresarial português e são também
as mais afetadas pela crise, sobretudo as mais afetadas pelas medidas de austeridade deste Governo, e não
se prevê um futuro muito brilhante à frente.
Aliás, os dados que temos preveem até um investimento negativo líquido na economia: continuamos a
perder capacidade produtiva, as empresas continuam a não conseguir investir, em ter mais capacidade
produtiva, mais investimento fixo.
As empresas foram afetadas pela crise e pela austeridade de várias formas, a começar pela procura. Há a
ideia de que as empresas e o tecido empresarial pode viver sem procura, o que é uma ideia, em si, muito
datada. Aliás, ela data de 1767 — é uma lei formulada por um senhor chamado Jean Baptiste Say que diz que
toda a oferta cria a sua própria procura. Na realidade, sabemos que não é verdade, as empresas precisam de
procura para sobreviver e de alguém que compre os seus produtos e os seus serviços. Portanto, aumentar
salários, aumentar serviços públicos é, em si, uma forma de melhorar a economia, porque aumenta a procura
interna, cuja falta prejudica a atividade económica.
O segundo motivo que prejudica as pequenas e médias empresas em Portugal são os custos de contexto
— basta falar com as associações que representam estas empresas para o sabermos: é o custo da
eletricidade, o custo do combustível, os impostos, o IVA que estas empresas pagam que têm asfixiado a sua