I SÉRIE — NÚMERO 10
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Existe agora a oportunidade, através do projeto de resolução do Bloco de Esquerda e do projeto de lei do
PCP, de acabar com esta discriminação. Espero bem que todas as Sr.as
e Srs. Deputados estejam à altura
desta questão tão importante para as comunidades portuguesas.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Paulo Pisco.
O Sr. Paulo Pisco (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Começo por saudar os peticionários que
subscrevem esta petição contra a propina no ensino de Português no estrangeiro. Esta já é a terceira petição
que as nossas comunidades fazem chegar à Assembleia da República desde que o Governo assumiu
funções, o que mostra bem a sua ação destrutiva, neste domínio particular das comunidades.
A introdução da propina veio quebrar uma prática de 40 anos de ensino gratuito, como forma de
reconhecimento da importância das nossas comunidades. O Partido Socialista fez tudo para contrariar aquilo
que, a nosso ver, era uma decisão errada. Sublinho, particularmente, o pedido de um parecer ao Provedor de
Justiça sobre a legalidade e constitucionalidade da lei e o pedido de apreciação parlamentar do Decreto-Lei n.º
234/2012, de 30 de outubro.
O Governo, porém, prossegue teimosamente na aplicação de uma medida que não trouxe benefícios nem
melhorias para o ensino do Português no estrangeiro.
A questão que importa hoje colocar é esta: afinal, para que serviu a introdução da propina, se o ensino não
melhorou rigorosamente nada, antes pelo contrário? Serviu, sobretudo, para causar muitas perplexidades.
Perplexidade porque as condições de trabalho para alunos eprofessores deveriam melhorar e, afinal,
houve uma perda de qualidade a todos os níveis, porque a formação de professores é uma ficção e passou a
haver muito mais alunos por professor, mais alunos e níveis de ensino numa mesma sala de aula e menos
horas lecionadas.
Perplexidade porque o ensino público no estrangeiro deveria tornar-se mais universal e, afinal, ficou mais
inacessível e fez desistir da aprendizagem vários milhares de jovens.
Perplexidade porque afastou o Estado do seu dever de promover a língua e a cultura, como estabelece a
Constituição da República.
Perplexidade, ainda, porque o Governo prometeu que o ensino do Português seria a âncora das políticas
para as comunidades e, afinal, está a afundá-lo de uma forma que levanta muitas interrogações quanto ao seu
futuro.
E, afinal, para onde foram os cerca de 4 milhões de euros que o Governo já arrecadou com as propinas
que as famílias estão a pagar para ter um ensino pior? Aparentemente esfumaram-se, foram engolidos pela
incompetência e pela falta de visão do Governo para criar um País mais forte e mais coeso, em que as
comunidades são respeitadas e também contam.
Aquilo que deveria ser visto como um investimento estratégico transformou-se num pesado fardo
financeiro, como prova o brutal desinvestimento no ensino, bem exemplificado pela supressão de mais de 200
professores em apenas três anos.
A verdade é que não há visão nem estratégia para a política de língua, o que enfraquece a nossa posição
no mundo, nas organizações internacionais e a nossa ligação ao vasto mundo da lusofonia. Este Governo tem,
isso sim, muita conversa para tentar esconder a falta de ideias e de vontade de melhorar as políticas para as
comunidades.
O ensino do Português no estrangeiro é hoje uma lamentável manta de retalhos que não aproximou as
várias modalidades de ensino. Afinal, a propina só acentuou as desigualdades entre os que pagam e os que
têm o ensino gratuito, em Portugal como nas comunidades, e ainda criou embaraços e constrangimentos com
algumas administrações educativas, como aconteceu, por exemplo, em França.
A propina, portanto, fez muito mal e pouco bem. E é por isso que a sua existência não faz sentido e que os
peticionários têm razão na sua reivindicação.
Aplausos do PS.