I SÉRIE — NÚMERO 18
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Não preciso de lhe recordar que este Orçamento apresenta exatamente a mesma austeridade, os mesmos
cortes do passado, mas mais impostos: mais impostos indiretos, mais impostos sobre o consumo, mais
impostos sobre os combustíveis, mais impostos sobre os imóveis e a habitação. É o mesmo, mas com mais
impostos.
A maioria recusa-se a admitir que esta austeridade destrói o País, destruiu a economia e está a destruir a
Europa. Não é por acaso que a Europa está à beira de uma terceira recessão. Não consegue perceber que a
austeridade destrói as economias. Trata-se de uma recessão europeia que, aliás, coloca em causa as próprias
previsões do Governo relativamente à procura externa. É o próprio Conselho de Finanças Públicas que diz
que as previsões são otimistas, que Portugal não vai exportar aquilo que o Governo diz que vai exportar. E a
isto adiciona-se o facto de a OCDE, a Fitch ou a Católica dizerem também que as previsões de crescimento
são otimistas.
O cenário macroeconómico apresentado por este Governo não faz sentido, não é credível.
Aquilo que temos à nossa frente, depois de quatro anos de austeridade, é o mesmo modelo produtivo, uma
balança de bens que não é positiva — é a balança de serviços, que foi atacada por este Governo, que é
positiva — e a exportação de mercadorias não é o sucesso que os senhores vendem. Trata-se de uma
economia baseada no consumo interno, com um setor produtivo que estruturalmente não mudou, que continua
baseada em baixos salários e em atividades de pouco valor acrescentado e pouco qualificadas. Não seria de
esperar outra coisa, porque a política deste Governo foi a de baixos salários e a de desinvestir na educação,
desinvestir na qualificação.
A somar a esta falência do modelo produtivo há um conjunto de medidas antissociais. A primeira medida
fiscal que Governo se lembrou de aplicar foi a de descer o IRC sobre as grandes empresas. O Sr. Primeiro-
Ministro vem aqui dizer que era para ajudar o tecido empresarial e produtivo, mas nunca diz que as pequenas
e médias empresas não pagam IRC porque não têm lucros suficientes para o pagar. Quem paga IRC são os
grandes grupos económicos. São esses que pagam IRC e são esses que foram beneficiados duas vezes.
Aquilo que as pequenas empresas nos pedem quando vêm ao Parlamento é que se baixe o IVA da
restauração, que se baixem os impostos indiretos, que se desça o IVA sobre a eletricidade, que se baixem os
impostos sobre os combustíveis. É isso que as empresas querem. Mas, ao contrário, o Governo apenas dá
benefícios às grandes empresas e aos grandes interesses económicos.
O contraponto a esta política é muito simples — e não vou deixar de responder à questão que nos colocou
quando disse que se sentia orgulhoso com este Orçamento do Estado e com esta política. Pergunto: sente-se
orgulhoso de um País em que aumentam 10 000 milionários por ano mas em que aumenta, em proporção, a
taxa de pobreza? Sente-se orgulhoso por ter um País como Portugal onde a percentagem de crianças
carenciadas é de 27,4%, sendo a média na zona euro de 10%? Sente-se orgulhoso por ter o dobro de
crianças carenciadas do que é a média europeia? Sente-se orgulhoso por ter um gasto público em prestações
sociais que é de metade do da média europeia quando tem o dobro da pobreza?
Estas são as consequências da austeridade. As consequências da austeridade são as de um País mais
pobre, com mais precariedade, com mais emigração, com menos perspetivas de futuro e não há nenhuma
sustentabilidade, não há nenhuma perspetiva de um futuro melhor nos dados sociais que nos apresentam, que
não são apenas as fantasias de cenários macroeconómicos do Orçamento do Estado!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Pacheco.
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Mota Andrade e Sr.as
Deputadas Paula
Santos e Mariana Mortágua, agradeço as questões que colocaram.
Deixo uma primeira nota sobre a credibilidade do Orçamento que aqui foi questionada mais uma vez pelos
Srs. Deputados do Bloco de Esquerda. Compreendo que a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, que há um ano
não estava neste debate, não se recorde do que foi dito, aqui, pelos seus colegas.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Estava, sim!