31 DE OUTUBRO DE 2014
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Ainda agora, o Sr. Deputado do PSD falava em estabilidade fiscal. Quem olha para o IRS e para esta
cláusula de salganhada vê tudo menos estabilidade fiscal. Vamos ter dois códigos do IRS, um para um tipo de
contribuintes, outro para outro tipo de contribuintes! Se isto é estabilidade fiscal, o que é que será instabilidade
fiscal?!
Protestos de Deputados do PSD.
E, já agora, qual é o impacto desta salganhada nas receitas fiscais?
Sr.ª Ministra, nós queremos saber como é que explica todas estas contradições, como é que explica todas
estas confusões, como é que explica todas estas malabarices!
Será que a Sr.ª Ministra e o seu Governo andaram tão preocupados a vigiar e a controlar cada cêntimo que
os pobres recebiam de prestações sociais, a combater cada abuso das crianças subsídio-dependentes deste
País, que não teve tempo para olhar e acautelar o rigor do próprio Estado, a seriedade com que o próprio
Estado trata os contribuintes e os cidadãos?!
É ou não é verdade que Portugal gasta mais em juros e menos em prestações sociais e salários do que a
maioria dos países na zona euro, como, aliás, diz o relatório da UTAO?!
É ou não é verdade que o Governo, do alto do seu rigor, se apropria indevidamente de 244 milhões de
euros de IMI, por não fazer uma reforma na forma como as casas são avaliadas — caso denunciado pela
DECO?!
É ou não é verdade que o Governo retira a cláusula que protege cidadãos do aumento do IMI, o aumento
do preço nas suas casas, mas permite que fundos imobiliários só paguem metade do IMI?! É um benefício
fiscal de metade do IMI para fundos imobiliários especulativos, mas as famílias são obrigadas a pagar IMI!
É ou não é verdade que este Governo de «rigor» é capaz de penhorar uma casa a uma família de uma
mãe que recebe salário mínimo e tem filhos a cargo, por uma dívida ao Estado de 500 €?!… Um Estado que
penhora uma casa de família por uma dívida de 500 €!…
É ou não é verdade que houve um aumento de 30% do IRS, houve aumento do IVA da eletricidade, houve
aumento dos impostos indiretos, impostos sobre combustíveis, e o único imposto que desceu foi o imposto
sobre as grandes empresas?!
É ou não é verdade que há 27,4% de crianças carenciadas neste País? É o dobro da zona euro e os
apoios que recebem são metade daqueles que, em média, a zona euro presta!
É ou não é verdade que este Governo só governa para o défice? É ou não é verdade que este Governo só
governa para os mercados, só governa para os interesses financeiros, enquanto assiste, impavidamente,
como se não houvesse solução, ao empobrecimento generalizado do País e à emigração forçada a que dotou
grande parte da geração mais jovem, mas também de uma geração de desempregados de longo prazo, que é
um estigma desta sociedade que não tem parado de crescer, desde que entrou para o Governo?!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — A próxima pergunta cabe ao PCP.
Sr. Deputado Paulo Sá, faça favor.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra das Finanças, ao mesmo tempo que corta salários,
pensões e prestações sociais, que esmaga os trabalhadores com uma insuportável carga fiscal, que ataca as
funções sociais do Estado e encerra serviços públicos, o Governo favorece o grande capital, atribuindo-lhe
escandalosos benefícios fiscais. E não só atribui esses escandalosos benefícios fiscais como os oculta nas
contas do Estado, e quem o diz, Sr.ª Ministra, é o Tribunal de Contas.
Há cerca de um ano, o Tribunal de Contas denunciou o facto de o Governo ter omitido 1045 milhões de
euros, repito, 1045 milhões de euros de benefícios fiscais a grandes empresas, em sede de IRC. O Tribunal de
Contas denunciou ainda o facto de o Governo, nos relatórios dos Orçamentos do Estado, inflacionar os
benefícios fiscais em sede de IRS e IVA, ao mesmo tempo que oculta benefícios fiscais em sede de IRC. E,
com esta grosseira manipulação das contas públicas, o que o Governo tenta fazer é esconder que o IRC tem
mais benefícios fiscais do que todos os outros impostos juntos.