26 DE NOVEMBRO DE 2014
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A discussão do primeiro Orçamento do pós-programa que tem ocupado esta Assembleia, mas que também
se tem estendido à sociedade, não se deve cingir apenas ao quadro temporal a que se refere.
O primeiro Orçamento pós-programa marca o início de um novo ciclo e deve, por isso, lançar o debate
sobre as perspetivas de longo prazo para Portugal, perspetivas que deixaram de estar condicionadas por um
Memorando exigente e pelo contexto de emergência dos últimos anos, graças à determinação de todos os
portugueses, mas perspetivas ainda marcadas por importantes desafios que importa reconhecer.
Ao longo das últimas semanas, as vozes mais críticas repetiam que para o Governo, afinal, nada mudou
desde maio. Na verdade, talvez não quisessem aceitar exatamente o que significa o final do programa:
significa mais autonomia, sem dúvida, mas significa também um conjunto de progressos alcançados com
muito esforço e credibilidade arduamente recuperada; significa que Portugal tem mais a perder e tem, por isso,
responsabilidade acrescida, tem o dever de preservar as conquistas coletivas.
A proposta de Orçamento para 2015 reveste-se assim do mesmo rigor que caracterizou as anteriores
propostas deste Governo, mas é também adequada ao momento atual, em que a emergência financeira deu
lugar à recuperação da atividade económica e à melhoria das condições do mercado de trabalho.
A proposta de Orçamento, em conjunto com outras iniciativas em diplomas autónomos, tem presente a
importância de iniciar a reversão gradual das medidas de caráter transitório e de desagravar os sacrifícios
exigidos aos portugueses nos últimos três anos, com prudência e sensatez, para que as melhorias sejam
sustentadas, e acima de tudo, para que não sejam revertidas.
Esta alteração de circunstâncias será particularmente relevante para as famílias que deverão registar um
aumento do poder de compra em 2015.
A extinção da contribuição extraordinária de solidariedade no seu atual desenho e a reversão parcial da
redução remuneratória em vigor resultarão num aumento de rendimento de muitos pensionistas e
trabalhadores do setor público.
O Sr. João Oliveira (PCP): — São uns mãos largas!
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — O aumento do salário mínimo nacional, a nova atualização
das pensões mínimas sociais e rurais e, de um modo geral, a própria recuperação do mercado de trabalho
serão benefícios decisivos e tangíveis para os portugueses que auferem menores rendimentos.
Em 2015, também as empresas contarão com uma melhoria do seu contexto de atuação. Correspondendo
à expectativa criada com a reforma do IRC, proceder-se-á à redução da taxa de imposto para 21%.
A estabilidade e previsibilidade fiscais são elementos fundamentais na promoção do investimento, que por
sua vez é o motor da recuperação económica, através do seu papel na criação de emprego e riqueza.
A economia beneficiará ainda do efeito conjunto das reformas da fiscalidade verde e do IRS. Os objetivos
decisivos destas reformas são a promoção do crescimento verde, apostando simultaneamente na sua
sustentabilidade económica e ambiental, e a simplificação profunda do IRS, utilizando também a sua estrutura
para assegurar a proteção da família e valorizar o trabalho e o mérito.
De facto, não tendo sido ainda possível proceder a um desagravamento imediato da sobretaxa de IRS, a
proposta de reforma apresentada pelo Governo introduz alterações importantes que permitirão desagravar a
carga fiscal de muitas famílias.
Em conjunto, a manutenção do rigor do ajustamento e as iniciativas de apoio à recuperação da economia e
da confiança permitirão atingir novos resultados decisivos para o País. Em 2015, Portugal deverá registar não
só um défice orçamental inferior a 3% como um excedente orçamental primário de 2,2% do PIB, o terceiro
excedente primário consecutivo e o maior excedente primário das duas últimas décadas.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O rácio da dívida pública em termos brutos deverá diminuir pelo segundo ano consecutivo, situando-se em
123,7% do PIB no final de 2015, mantendo ainda assim importantes reservas de liquidez que permitem
enfrentar com tranquilidade a incerteza das condições de mercado.
O crescimento anual do PIB deverá acelerar para 1,5%, assentando em contributos positivos da procura
interna e da procura externa líquida, e a taxa de desemprego, embora se mantenha em níveis ainda muito