26 DE NOVEMBRO DE 2014
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A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — O ajustamento externo tem sido igualmente importante,
assegurando o registo de uma capacidade líquida de financiamento face ao exterior de 1,3% do PIB em 2013,
e este excedente externo deverá aumentar para 1,5% do PIB em 2014, mantendo-se esse nível no próximo
ano.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Como é possível?! Como é que possível dizer uma coisa destas?!
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — No plano financeiro, destaco que Portugal conseguiu passar
de uma situação de bancarrota eminente em 2011 para um acesso estável e regular ao financiamento de
mercado, tendo-se já retomado a execução frequente de leilões de obrigações do Tesouro.
Em paralelo, o abrangente e ambicioso programa de reformas estruturais em curso permitiu construir uma
economia mais aberta, dinâmica e flexível, criando vantagens competitivas duradouras e melhorando a
sustentabilidade do setor público.
O Sr. João Oliveira (PCP): — O caso da TAP é flagrante!
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — Ainda que o pleno efeito das reformas apenas se faça sentir
no médio e no longo prazos, alguns dos resultados são já visíveis.
Este esforço global abriu caminho à retoma da atividade económica e à melhoria das condições no
mercado de trabalho desde meados de 2013.
Em termos trimestrais, o PIB retomou a trajetória de crescimento e continua a recuperar desde então.
Os dados do INE para o 3.º trimestre de 2014 indicam um crescimento homólogo de 1%, acelerando face
ao 2.º trimestre do ano e em linha com a estimativa do Governo para o crescimento anual.
No que respeita ao mercado de trabalho, a taxa de desemprego tem vindo a diminuir de forma persistente,
de um máximo de 17,5% no 1.º trimestre de 2013 para um valor de 13,1% no 3.º trimestre deste ano, uma
descida acumulada de 4,4 pontos percentuais.
Em paralelo, a população desempregada tem vindo a diminuir e a população empregada continua a
aumentar.
O programa de ajustamento permitiu assim iniciar a correção dos desequilíbrios acumulados e, em
paralelo, recuperar a credibilidade perdida. Mas o ajustamento não está concluído e a credibilidade não pode
nunca ser dada como adquirida.
O País tem agora a autonomia para escolher uma de duas opções: cingir-se ao muito que já foi feito e
admitir que as restrições terminaram com o programa, ou reconhecer que ainda há muito por fazer e enfrentar
os desafios.
A escolha cabe aos portugueses, mas parece-me importante explicitar as consequências de ambas as
opções — as consequências últimas e não apenas as de curto prazo.
A primeira opção significaria ignorar a evolução da economia portuguesa nos últimos 20 anos e manter a
inconstância de propósito que marcou os anteriores períodos de pós-programa. Traduziria ainda uma memória
particularmente curta, pois a gravidade dos acontecimentos em 2011 trouxe importantes lições que não podem
ser ignoradas.
Em primeiro lugar, a restrição financeira é perene, ainda que nem sempre evidente. Não decorre apenas
dos compromissos europeus, nem mesmo da disciplina de mercado, mas sobretudo da importância da
sustentabilidade das finanças públicas para a sustentabilidade do próprio crescimento económico.
Em segundo lugar, a adesão à moeda única trouxe importantes oportunidades, que importa aproveitar, mas
também maiores desafios, nomeadamente a necessidade de reforçar a competitividade num ambiente mais
concorrencial, sem recurso à política cambial, exigindo assim uma adaptação do modelo de crescimento e da
estrutura da economia face à realidade anterior.
A repetição do comportamento da primeira década do euro seria, na melhor das hipóteses, um paliativo no
curtíssimo prazo mas resultaria numa crise de ainda maiores proporções no futuro. Em particular, o reforço do
modelo de governação europeu implicaria objetivamente sanções e, acima de tudo, uma perda significativa de
credibilidade que, em paralelo com a disciplina orçamental, teria as repercussões que, infelizmente, já
conhecemos nas condições de financiamento.