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I SÉRIE — NÚMERO 30

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robusto; segundo, uma política mais ativa da parte do Banco Central Europeu, que deu claramente a entender

que defenderia o euro até às últimas consequências, o que criou, evidentemente, um contexto muito favorável

para uma descida homogénea das taxas de juro na periferia.

Significa isto, no entanto, que os países, para beneficiarem desse enquadramento, têm de seguir

determinadas políticas. Nós, felizmente, temos tido sempre um sentido mais ou menos contínuo e

descendente das nossas taxas de juro, o que não quer dizer que, às vezes, quando há estas perturbações

externas, elas não flutuem também um pouco, mas depois, normalmente, readquirem a sua tendência de

longo prazo e têm vindo a baixar consistentemente.

No entanto, sempre que, no caso da Grécia, ocorreram dúvidas sérias, quer sobre as políticas que estavam

a ser prosseguidas, quer sobre a estabilidade política dos governos que as levam a efeito, as taxas de juro

agravaram-se de uma forma muito sensível.

No caso da Grécia, agravaram-se mesmo num período curto de tempo. Bastou que regressasse a ideia de

uma certa instabilidade por não se saber se poderia haver ou não eleições antecipadas e dúvidas quanto a

uma possível vitória das forças políticas que têm posições radicalmente opostas às que têm sido prosseguidas

pelos Governos gregos e que se têm manifestado contra o Programa de Assistência Económica e Financeira

para, de repente, tornar a Grécia, que estava à beira de negociar uma espécie de programa cautelar, num país

que tem, novamente, taxas que são absolutamente insustentáveis.

Isto é muito importante para a retórica de todos aqueles que acham que as taxas de juro são indiferentes

às políticas que são prosseguidas em cada Governo e em cada Estado. Não é assim! E fica mal, sobretudo

àqueles que são economistas, não reconhecerem, com uma relativa facilidade, estas matérias.

Criar dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida, manter ambiguidades sobre as políticas que devem ser

prosseguidas, nomeadamente em termos de consolidação orçamenta, criar qualquer elemento de instabilidade

que possa ser percecionado como instabilidade séria, que ponha em causa a execução das políticas, tudo isso

se paga muito caro, em primeira instância, pelo Estado, que tem de pagar taxas muito mais elevadas no

mercado secundário, e, depois, por toda a economia, porque as empresas também se financiam a taxas que

são influenciadas por outras.

E, de repente, aquilo que parecia um ritmo coerente, sustentável, de recuperação económica torna-se um

pesadelo, em que é preciso renegociar o programa e voltar a tentar reparar a credibilidade perdida, o que é

muito mais difícil, sobretudo quando ocorre à terceira ou à quarta vez.

Serve isto para dizer, Sr. Deputado, que se o Governo e a maioria que o suporta tivessem feito a vontade à

oposição nestes três anos e meio tudo aquilo que hoje é presentado como recorte social do impacto negativo

da crise seria uma brincadeira, comparado com a realidade que o País estaria a viver hoje. E nós não vivemos

nem nas nuvens, nem em mundos ideais, vivemos num mundo em que temos de tomar opções. E ainda bem

que é assim, que não há esses determinismos e que somos livres de escolher.

Pena é que aqueles que resolvem, esses, sim, de forma populista, oferecer soluções fáceis para todos os

nossos problemas não digam aos portugueses qual é o preço que teriam de pagar por essas políticas. É o

caso da TAP, das golden shares, é o caso da economia protegida, que, durante anos, foi alimentada em

Portugal com políticas de ativismo público que convidavam os privados a investir no setor público em áreas

que não tinham retorno económico, que não geravam emprego para futuro. É esse o caso. Portanto, o modelo

económico que temos seguido até aqui, até 2011, e as medidas que têm vindo a ser defendidas pela oposição

como alternativas melhores para a situação que estamos a viver hoje são, de facto, um embuste que os

portugueses teriam pago muito caro.

E faz todo o sentido fazer esse balanço agora, como o fará fazer, evidentemente, na campanha eleitoral —

falaremos abundantemente disso.

Mas agora é preciso dizer que aqueles que se defendem dizendo que já não é tempo de estarmos a falar

dos entendimentos de que o País precisa, como é o caso do Partido Socialista — recordámo-lo ainda ontem,

em conversa muito cordial que tive com o seu líder —, quando se diz agora que já não estamos em tempo de

fazer qualquer convergência e que a devemos deixar para depois das eleições, é importante que o País saiba

o que é que isso significa: que estamos a adiar soluções para o País, o que é mau, mas, sobretudo, que não

estamos a ser diretos naquilo que defendemos, que as eleições dificultam que se diga o que se vai fazer.

Ficamos, portanto, a aguardar, com muita expectativa, o tal programa eleitoral, na certeza de que aquele que

temos hoje para oferecer aos portugueses tem factos muito concretos.