I SÉRIE — NÚMERO 30
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investimentos, que tomou o nome do próprio Presidente da Comissão, o plano Juncker, e que assenta na
criação de um fundo europeu para investimentos estratégicos que, como todos sabem, visa mobilizar recursos
que são necessários para ajudar ao crescimento económico e corrigir o défice de investimento que se tem
registado na União Europeia.
Julgo que este plano é um bom ponto de partida. Há aspetos que ainda não estão muito claros e que
iremos debater, com certeza, na reunião do Conselho Europeu, que têm a ver com a sua governance, por
exemplo — e essa não é uma questão menor —, mas é evidente que este é um plano que nos parece incidir
sobre áreas que são realmente estratégicas para estes fins que enunciei e que, de alguma maneira, coincidem
também com as áreas estratégicas que Portugal já definiu para os próximos anos: os setores da energia e dos
transportes, pensando numa verdadeira União energética, mas também as redes transeuropeias, quer de
energia, quer de transportes, que promovem o aprofundamento do nosso mercado interno. Este plano aposta
também no mercado único digital e, em particular, em tudo o que envolve a investigação e a inovação, como
alavancas de um crescimento sustentável, associadas ao processo de abertura às parcerias comerciais e
internacionais, que têm vindo a promover fluxos cada vez mais relevantes de investimentos abertos.
Nessa medida, julgo, portanto, que o plano Juncker é um bom ponto de partida mas, em particular — quero
sublinhá-lo —, na medida em que concita a atração de investimento privado. Julgo que isto é crítico nos anos
que temos à nossa frente e também para Portugal.
A Comissão Europeia, no fundo, o que propõe é que aos meios que estão associados quer à facilidade
interna, que dá pelo nome de European Connecting Facility, quer, por outro lado, aos fundos oriundos das
áreas da inovação e da investigação, devem associar-se fundos do Banco Europeu de Investimentos,
totalizando cerca de 21 000 milhões de euros.
Esses 16 000 milhões mais 5000 milhões de euros, distribuídos, portanto, entre fundos estruturais e fundos
do Banco Europeu de Investimentos, deverão dar uma garantia de um múltiplo de três nas garantias públicas
que podem ser dirigidas para o investimento privado. Espera-se que a capacidade de multiplicar essas
garantias tenha um múltiplo de cinco e que, portanto, no global, nós possamos multiplicar por 15 o valor inicial
dos fundos que são alocados.
Isto significa que deverá haver uma capacidade muito grande de atrair investimentos relevantes da área
privada para estes objetivos. Dir-se-á «bem, mas muitos desses investimentos poderiam ter lugar em qualquer
circunstância». Não é assim, na medida em que o nível de alavancagem que é garantida através destes
fundos está também associado, no fundo, a custos de financiamento bastante mais baixos, e essa é a razão
porque um conjunto de investimentos relevantes poderá passar a ser economicamente rentável, caso as
condições de financiamento se tornem mais favoráveis.
Ora, nós, em Portugal, associámo-nos também a este processo, nomeadamente quando, através do
Ecofin, nos foi solicitado que fizéssemos uma mera indicação de projetos que pudessem ter viabilidade para
este efeito. Isso foi feito, sem novidade, através daqueles que já constituem o PETI + e que é do conhecimento
de todo o País, e depois foi feita uma auscultação, através da AICEP, às empresas privadas, no sentido de
poderem indicar investimentos possíveis nestas áreas.
Este mapa que foi enviado, e que é público, não vincula nem o Estado português nem essas empresas,
como não vincula a Comissão Europeia, ou o BEI ou o fundo que irá ser criado. É meramente indicativo do tipo
de iniciativa que poderá vir a ter lugar.
Em todo o caso — e é muito relevante dizê-lo —, é muito importante que o investimento seja
predominantemente feito por via privada, até porque nós sabemos que este investimento é mais necessário
nas economias da periferia, que estão mais endividadas em termos públicos do que as outras. Portanto,
dizerem-nos que precisamos de fazer mais investimento público nestas áreas é uma falsa questão, porque
não temos margem para fazer mais investimento público do que aquele que está, evidentemente, projetado.
Por fim, Sr.ª Presidente, para não me alongar, queria dizer que é muito importante não escamotear que
temos ainda um problema dentro da União Europeia que não é respondido por este tipo de iniciativa e que tem
a ver com o facto de, mesmo depois de todas as respostas que foram encontradas do ponto de vista
institucional, haver ainda uma certa incompletude na união económica e monetária, que resulta do facto de ela
não ter no seu seio e, nomeadamente, na zona euro, uma capacidade orçamental própria, sustentada por
recursos próprios e que permita, no fundo, fazer transferências dentro do próprio espaço europeu e da área da
moeda única — não entre países ricos e países pobres, porque isso alimenta sempre uma rivalidade entre