I SÉRIE — NÚMERO 32
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Sr. Ministro da Economia, para terminar, dou-lhe uma sugestão: os argumentos que o senhor hoje utilizou
contra os trabalhadores da TAP, contra a greve que foi convocada pelos trabalhadores da TAP, contra todos
os portugueses que defendem o interesse nacional, procurando travar a privatização que os senhores querem
levar a cabo, utilize-os para defender a empresa pública na esfera pública e não para a privatizar e ficar como
a Sorefame ou como tantas outras empresas públicas deste País que, sendo públicas, estavam ao serviço do
País e, sendo privadas, foram desmanteladas ou passaram a servir só para aquilo que dá lucro. Siga este
conselho, Sr. Ministro, e verá que poderá ficar melhor recordado como alguém que defendeu o interesse
nacional e não o interesse de quem quer amealhar lucro com a privatização de empresas que são de todos os
portugueses.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Não havendo mais inscrições neste debate, tem a palavra, na fase
de encerramento, o Sr. Deputado Francisco Lopes.
O Sr. Francisco Lopes (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Esta
interpelação do PCP evidenciou a grave situação do País, mostrou a dimensão antissocial da política do
Governo PSD/CDS-PP, mostrou as dificuldades deste Governo em olhar para a realidade que criou do País e
procurou falar de tudo menos da realidade concreta dos trabalhadores e do povo português.
Mostrou a natureza antissocial da política de direita, dos PEC, do pacto de agressão, dos tratados e outros
instrumentos que são invocados e servem para prosseguir este rumo profundamente injusto e desumano.
Os dias que correm são marcados pela violência de uma política de exploração, empobrecimento, miséria,
fome e gritante indignidade.
Esse é o testemunho vivido e sofrido por centenas de milhares, por milhões de portugueses que não
conseguem ter nas suas vidas os bens e serviços de que carecem, incluindo muitos que são obrigados a
emigrar. Não porque o País não tenha condições para propiciar a todos uma vida digna, mas porque a política
seguida desperdiça o aproveitamento dos recursos e da produção nacional e porque a riqueza criada pelo
trabalho é extorquida a favor do enriquecimento e do esbanjamento de poucos detentores do poder económico
monopolista e saqueada a favor das transnacionais, que sangram Portugal.
Uma pequena minoria, 1% da população, apropria-se da riqueza criada pela imensa maioria, apropria-se
dos recursos do País com as privatizações e os mais diversos processos, apropria-se das receitas dos
impostos, apropria-se dos fundos da segurança social e envolve o País em sucessivos escândalos, mês a
mês, ano a ano, como se tem visto nos últimos meses.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Francisco Lopes (PCP): — Ficou claro o retrocesso inaceitável que constitui a redução da parte do
trabalho na distribuição do rendimento nacional, que passou de 73%, em 1975, para apenas 37%, em 2013,
enquanto a parte do capital passa de 27% para 62%. Aqui ficou claro o agravamento brutal da exploração e do
empobrecimento expresso na última década por um lucro acumulado dos principais grupos económicos e
financeiros, esses que têm sede no Luxemburgo e na Holanda, de cerca de 50 mil milhões de euros, enquanto
reduziam salários e direitos. Aqui ficou clara a opção do envio de mais de 10 mil milhões de euros para a
banca sobre os escândalos do BPN, do BPP ou do GES/BES e dos cerca de 2000 milhões de euros em PPP e
swaps, retirados aos reformados e pensionistas, aos desempregados, às crianças e aos jovens, àqueles que
necessitam de proteção e apoio social.
Aqui ficou clara a injustiça fiscal desta política, que dá benefícios aos grupos económicos e financeiros, que
reduz os impostos sobre os lucros e que promove a saída do País de centenas de milhões de euros por essa
via, ao mesmo tempo que eleva os impostos que incidem sobre os trabalhadores, os reformados e a
população em geral.
Aqui ficou claro o que representa o saque dos mais de 8000 milhões de euros de juros anuais para o
capital financeiro transnacional, que tão precisos são para o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública, o
desenvolvimento do País e a criação de emprego.